Com o tempo e a evolução da tecnologia, o telefone celular ganhou novos recursos, acesso à internet e aplicativos, tanto que a função de ligação deixou de ser a principal do aparelhinho e ganhou de vez os brasileiros. De acordo com levantamento da plataforma Annie, de análise e dados móveis, o Brasil é o 3º no ranking global de tempo dispendido em celulares: são mais de 3 horas e 45 minutos por dia. Esse uso excessivo pode causar problemas à saúde, alerta o coordenador-médico da Clínica de Dor do São Bernardo Apart Hospital, Lúcio César Hott Silva.
“O uso exagerado de tablets e smartphones está criando uma geração de corcundas, e os eletrônicos, como celulares e tabletes, estão afetando diretamente a saúde das pessoas. Entre as queixas mais comuns, é possível citar dor cervical (dor no pescoço), mas também a dores de cabeça e na face podendo ocorrer, inclusive, ser irradiada para os membros superiores. O problema é bem maior entre jovens e adolescentes pelo maior tempo de exposição à tecnologia” – comenta.
A orientação de Lúcio encontra base também no estudo médico-científico apresentado pela Science Direct e PebMed, que mostrou que a prevalência de cervicalgias (dores no pescoço e ombro) entre usuários de dispositivos móveis chega a 67,8%. O médico explica que, em posição ideal, o peso transmitido ao pescoço é de aproximadamente 5kg. Esse peso aumenta quando inclinamos o pescoço para frente. “A sobrecarga pode chegar a 27kg”, avisa Lúcio.
Síndrome do pescoço de texto
A síndrome de “pescoço de texto” é uma das complicações originadas com essa sobrecarga, de acordo com o médico. “As pessoas perdem a capacidade de adaptação e conforto e passam a se queixar de dor ou desconforto quando realizam atividades com o pescoço neutro. Passam a caminhar olhando para baixo, como se um ímã estivesse puxando a cabeça e até o tronco. O simples fato de olhar reto, incomoda. Não se contempla mais o horizonte”.
Mais do que as cervicalgias, a postura inadequada ao manusear produtos eletrônicos por longos períodos de tempo pode provocar outras complicações que vão desde um desgaste precoce da coluna vertebral, levando à formação de uma hérnia de disco. “A longo prazo, pode reduzir a capacidade pulmonar em 30%, afetar o coração e até provocar depressão”, destaca o médico.
PREVENÇÃO
Celulares e smartphones já fazem parte do dia a dia das pessoas, isso é fato. Para o médico especialista em Dor, a solução não é se privar da tecnologia, mas fazer uso de forma consciente. “Não aconselho passar mais de 40 minutos seguidos em frente a um celular, mesmo com uma postura ideal, pois a musculatura vai entrar em fadiga. Com o tempo perde-se a situação de conforto e formas de adaptação para se manter bem. Já as crianças devem evitar ao máximo esta exposição, sendo orientadas a realizar atividades recreativas em local espaçoso, pois estão na fase de formação” – reforça.
Para quem trabalha diretamente com smartphone, tablete ou computadores, Lúcio destaca a importância de realizar atividade física diária para ter uma musculatura fortalecida, bem como fazer exercícios de alongamentos musculares e de estabilização da coluna. “No trabalho, a recomendação é fazer uma pausa cada 40 minutos para se alongar”, orienta.
TRATAMENTO ESPECIALIZADO
Conforme orienta o médico Lúcio, para tratar os males originados com o uso excessivo e inadequado do celular, o ideal é procurar um médico que entenda de dor, haja vista que irão avaliar o paciente como um todo, e não como alguém com dor em determinado local apenas. “O médico especialista em Dor é capacitado para detectar o foco principal da dor ou incômodo, tratar a patologia da região e iniciar um trabalho de posturologia e reabilitação física. Pode ser ele um neurocirurgião, ortopedista, fisiatra, o importante é ser especialista no assunto, alguém conhecidamente que se dedica a esta área” – recomenda.
