SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A reportagem da Folha de S.Paulo aterrissou no aeroporto de Ezeiza às 22h40, pouco tempo depois de o presidente argentino, Alberto Fernández, ter anunciado o fechamento de fronteiras, regra que passaria a funcionar a partir da meia-noite.
Houve momentos longos de suspense quando o avião parou na pista, ainda longe do “finger” de desembarque. Funcionários conversavam em inglês e turco (nacionalidade da companhia aérea) pelo telefone com as autoridades do aeroporto.
O avião se move e começa a se aproximar da área de desembarque. Nervosos, os passageiros já estão de pé, recolhendo suas bagagens. Os tripulantes passam, pedindo o formulário de saúde que já vem sendo exigido desde o início da epidemia. É preciso informar, nome, endereço, onde esteve nos últimos 15 dias, em que cadeira se sentou no voo e quem são seus contatos na Argentina. Também pergunta se sentiu febre, dor de cabeça, garganta ou calafrios durante o voo.

Foto: Reprodução

O questionário serve para identificar casos de infectados logo no desembarque, ou para localizar pessoas que se sentaram perto deles, posteriormente, se for o caso.
Uma moça se impacienta e, em inglês, reclama com os comissários o fato de estarmos todos aglomerados na porta da saída: “Se uma pessoa estiver doente aqui, já nos infectamos todos”. Muitos usam máscaras cirúrgicas, outros também usam luvas.
Os funcionários da companhia aérea abrem a porta, e começam então a discutir com os médicos, vestidos de uniforme azul do lado de fora, que só falam espanhol. Passageiros ajudam a traduzir.
A confusão se instala. Os médicos dizem que precisam eles mesmos recolher os formulários das pessoas, para fazer perguntas adicionais. Tarde demais, eles já foram recolhidos. Cada passageiro, então, tem de repetir todas as respostas para um médico, que anota tudo e mede a febre de cada um.
Liberados dessa fase, os passageiros são orientados a caminhar com um espaço de um metro entre uns e outros, e não formar aglomerações.
Antes da fila de imigração, passamos por um escâner. É como se estivéssemos sendo filmados por quatro câmeras que soltam raios de luz vermelha. Médicos uniformizados e com máscaras e óculos nos observam. Tiram um ou dois da fila para perguntas adicionais.
Na fila de imigração, novamente, é preciso manter distância. Nem todos obedecem, funcionários da imigração têm de intervir, ou os próprios passageiros mais preocupados intervêm, “você quer ficar doente”.
Já é quase meia-noite quando um funcionário da imigração vê meus documentos e diz “OK, bem-vinda”.
Penso na minha geladeira vazia em casa e imagino passar pelo free shop, que costuma ficar aberto 24h, para comprar algo. Nada, já está fechado. Do lado de fora, também as lanchonetes estão descendo as portas.
Encontro um quiosque ainda aberto, recarrego o celular e compro alguns chocolates, imaginando que pode ser a última refeição caso amanhã os supermercados estejam vazios ou colapsados. No caminho do aeroporto de Ezeiza até minha casa, já depois da meia-noite, às ruas estão vazias. Nenhum comércio aberto, apenas alguma movimentação de carros.
Amanhã não haverá aulas em todo o país. Tampouco turistas, apenas alguns poucos que já estavam aqui e sabe-se lá como sairão. Passamos pela região de bares de Palermo, em geral cheias num domingo à noite. Pouca gente, alguns casais, apesar da noite fresca.
Chego em casa. Ligo a TV, aí sim estão todos acordadíssimos, praticamente todos os canais estão com debates sobre como será essa quarentena nacional e debatem se o presidente acertou nas medidas ou está exagerando.
Claro, o debate sobre saúde já está politizado. Afinal, estamos na Argentina.

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