ROGÉRIO PAGNAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por muitos anos, tudo o que Magali Garcia quis na vida foi ser aeromoça. Achava bonita a profissão, mas esse plano foi abandonado no momento em que ela viu passar pela rua um enorme caminhão dos bombeiros. Seus olhos brilharam, contam os familiares, porque ao volante estava uma mulher fardada.

Foto: Reprodução

Apaixonou-se de imediato. “Ela não sossegou até encontrar um bombeiro e perguntar como poderia se tornar um deles. Assim descobriu que precisava ser policial militar”, diz a irmã Elis, 49.
A filha de seu Francisco e dona Dejanira foi a primeira da família a ingressar na Polícia Militar, em maio de 1995, aos 21 anos. Ela trabalhava desde os 14 anos, tinha sido vendedora de roupas, montava vitrines em lojas, mas começava ali a sua verdadeira carreira profissional, que durou 25 anos.
A notícia de sua morte pela Covid-19, em 31 de março, ganhou repercussão por ser a primeira de policial na ativa em São Paulo. Para a família, perder Magali aos 46 anos trouxe uma sensação de incredulidade e devastação.
“Como a Magali era muito valente e determinada, não cogitamos nem por um minuto que a perderíamos. Pelo contrário, fizemos vários planos de comemoração para quando ela voltasse para nós”, diz o marido Reginaldo, policial militar da reserva.
Entre as festas previstas para o retorno da policial, estava uma para o último sábado (4), data em que a filha caçula de Magali, Ana Júlia, completou 13 anos.
Além da adolescente, Magali deixa o filho Alessandro, 28, que lhe deu uma netinha, Juliana, de um ano e nove meses. “Minha mãe era maravilhosa, sempre cuidou bem de mim, esteve comigo nos momentos mais difíceis, sempre foi exemplo. Muito guerreira”, diz Alessandro.
A irmã Elis acredita que a casa nunca mais será a mesma. “A Magali era a nossa alegria. O sorriso mais belo. A luz e a mão amiga que ajudava a todos. Muito amada. E como ela gostava de dizer sorrindo: a preferida de todos.”
A maior suspeita é que Magali tenha contraído a doença no trabalho. Ela tinha tempo suficiente para se aposentar desde o final do ano passado, mas planejava entrar com o pedido em maio. Ela completaria 25 anos de corporação e tinha contagem adicional de tempo.
Sua colega, a subtenente Mônica Borsoni Silva, conta que Magali sonhava em receber uma promoção para subtenente, ir para reserva e se mudar para a sua nova casa no município de Pardinho, no interior de São Paulo.
Mônica diz que no Copom [centro de operações da PM], onde Magali trabalhava, a colega era considerada comilona. “Ela adorava comer. Todos falavam da dupla Mônica e Magali, porque sempre andávamos juntas. Tomávamos café de manhã todo plantão.”
Para Mônica, é como se ela tivesse perdido uma irmã. “Os momentos mais difíceis foram esses últimos dias. Ela não queria ficar internada, dizia que já iria melhorar”, diz a policial.
Segundo a família, Magali não tinha uma doença preexistente que a colocasse no grupo de risco, e havia abandonado o tabagismo havia cerca de 25 anos, ao entrar na PM.
Mesmo prestes a se aposentar, Magali não trabalhou um dia sequer nos Bombeiros, mas não se sentia frustrada por isso. Descobriu sua vocação no policiamento. Obteve várias promoções, duas delas por merecimento que deram a ela os três macarrões na manga como 1º sargento.
Viveu também dias difíceis. O pior deles foi quando, em novembro de 2014, o marido foi baleado no rosto durante um assalto. “Ela não duvidou por um único segundo que Deus iria curá-lo. E assim ocorreu”, diz a irmã.
Agora, o marido, Reginaldo, diz que a certeza é outra. “Não precisamos ter medo: um dia estaremos juntos, porque, como ela dizia: Tudo vai dar certo.”
Os amigos preferem outra mensagem dela. “Vamos trabalhar, porque nasci linda, mas não nasci rica!”, brinca a amiga Mônica.

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