Evangelho
A palavra “Evangelho” (do greco “euangelion”, Boa Nova), no mundo romano, era usada para anunciar o nascimento do filho do imperador, ou o dia da posse dele no governo do país. A “Boa Nova” do nascimento de João Batista, já antecipa a alegria do nascimento do Messias, do Filho de Deus, que se reveste de nossa “carne mortal” para estar sempre conosco: “O mistério oculto, desde os séculos e desde as gerações, – diz Paulo – hoje, foi revelado: os gentios são coerdeiros, membros do mesmo e coparticipantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho”.
Os Apóstolos pregaram Evangelho e o seu testemunho foi colocado por escrito, por quatro evangelistas: cada um adaptou o seu escrito à comunidade cristã, a que ele pertencia. Núcleo desta mensagem: Deus ama a todos, por primeiro e sempre: não ama pelos nossos méritos, mas, por causa das nossas necessidades. É tão grande este amor, que ultrapassa toda esperança e expectativa humana, pois, além de ser gratuito e eterno, é ilimitado e incondicional. Tamanho é este amor, que cada um é livre de aceitá-lo, pois o amor não se obriga.
A palavra “Evangelho” foi usada, pela primeira vez, por Marcos para designar a pregação apostólica: foi ele o seu inventor e aquele que esteve na origem do gênero literário, chamado “Evangelho”. “Sal da terra, luz do mundo”, o Evangelho é fermento de um mundo novo: quem o acolhe passa de rei, a servidor; de primeiro, a último; de prepotente, a manso; de “sábio” a humilde. Jesus foi o primeiro a abrir este caminho: “de rico se fez pobre, para nos enriquecer com sua pobreza” – diz Paulo. Aos pobres reservou o melhor de si: do seu tempo e do seu poder de Messias.
Por ser incapaz de conter toda a riqueza da mensagem, transmitida pelos Apóstolos, o Evangelho, por sua própria admissão, é um “livro incompleto”: “Tenho ainda muita coisa a vos dizer – afirma Jesus – mas, não podeis suportá-las, agora”. Na finalidade do seu escrito, o evangelista João anota: “Jesus fez muitos outros sinais, que não estão escritos neste libro; se fossem todos escritos, o mundo inteiro não poderia contê-los”. O livro do Apocalipse, também, diz: “Vi um outro anjo, voando pelo meio do céu, que trazia um Evangelho eterno, para ser anunciado a todas as nações”.
A “Boa Nova” é um direito de todos, pois todos necessitam dela, para dar um sentido às suas vidas: os pobres do Terceiro mundo; os ricos do Primeiro Mundo; as populações da Ásia, ricas de religiões antigas e nobres; os marginalizados do mundo inteiro, oprimidos e humilhados. Se recebemos um dom, é para ser partilhado, doando a todos a “alegria do Evangelho, que é a dignificação da condição humana” (Papa Francisco).
E, o Evangelho não se transmite tanto por palavra, mas, pelo testemunho de vida: pois ele é comunicação de esperança e otimismo; é força de amar e servir; é fermento do Reino, de transformação social, que Jesus veio inaugurar, na história humana; é anúncio de justiça, fraternidade, liberdade e paz para todos.
(Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)