Ao sair de casa para caminhar pelas ruas de Carapina, na Serra, antes de orar, o padre italiano Ernesto Ascione realiza um ritual incomum em outras épocas. Ele enche os bolsos de dinheiro, notas de 10 reais, para distribuir a quem ele percebe que necessita.

“Estou muito triste porque o povo está sofrendo muito. São 56 anos que estou no Brasil. Cheguei aqui em 1969. Nunca vi tanta fome como agora, e choro. Choro porque nunca vi tanta gente mexer na caixa do lixo” – frisa o missionário comboniano sobre o atual momento que muitos brasileiros estão passando.

Padre Ernesto Ascione, sobre os ensinamentos de Santo Antônio: “Precisamos olhar mais para as coisas que nos une, do que para as que nos dividem”. -Foto: Wellington Prado/TC Digital

Sobre o dinheiro que costuma distribuir, afirma que não é porque as pessoas pedem e, segundo ele, elas não pedem. “Dou 10 reais para todo mundo que passa. A gente vê no semblante que a pessoa está sofrendo, tem um rosto seco, uma preocupação. Então eu converso e dou o dinheiro. Digo: ‘toma, vá lá tomar um café’. Porque nunca vi tamanha fome. Por isso estou triste. O País está rico e tem fome. Tem 50 milhões passando fome no Brasil” – observa o padre.

Missionário comboniano, o padre Ernesto foi pároco da Paróquia Santo Antônio, que está comemorando 25 anos. Na noite desta sexta-feira (3), ele presidiria uma missa alusiva aos festejos. Atualmente ele é vigário cooperador na Paróquia São José, em Carapina, na Serra.

Nesta sexta-feira, ele esteve na Rede TC de Comunicações em visita ao Diretor Geral Márcio Castro e para entrevista. Ele escreve artigos que são publicados semanalmente no jornal. “Agradeço imenso a Tribuna do Cricaré porque me deixa falar um pouco sobre essas coisas que afligem o brasileiro”.

 

“Santo Antônio repugnava a heresia, mas amava os hereges”

Estudioso das questões da atualidade, o padre Ernesto Ascione aponta, como conselho espiritual, que as pessoas devem ser mais tolerantes, amar mais uns aos outros e não deixarem que o ódio prevaleça sobre a serenidade nestes tempos de turbulência. Ele usa como exemplo a vida de Santo Antônio, que dá nome à paróquia sediada no bairro de mesmo nome na zona oeste de São Mateus.

“Santo Antônio repugnava a heresia, mas amava os hereges”, disse o missionário comboniano, explicando que as pessoas devem seguir esse exemplo e rejeitar o mal e o pecado, mas de amar os pecadores, “pois todos somos filhos de um único Deus”.

O padre destacou que a Igreja Católica está na semana de oração pela unidade dos cristãos e que Santo Antônio foi um precursor nesse pensamento. “Apesar de já terem se passado 800 anos, ele naquele tempo já disse o que o concilio, que é um documento muito importante, diz, que é a unidade dos cristãos. São três temas. O primeiro é a nossa conversão pessoal e da igreja de Cristo. Ele diz que todas as igrejas, a partir da Igreja Católica, deve se converter a Cristo. Depois, disse que precisamos rezar juntos, porque a unidade é um dom do espírito. Outra coisa importante, que Santo Antonio dizia, é que precisamos olhar mais para as coisas que nos une, do que para as que nos dividem”.

O padre explicou que por suas atitudes, Santo Antônio era chamado o Martelo dos Hereges. “Errado. Ele era o martelo das heresias, mas foi o manto dos hereges. Ele combatia as heresias, mas amava os hereges” – complementou o padre, em uma verdadeira lição de vida em comunhão com Cristo.

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