A bordo de um Opala, dois irmãos –Belmont e Maurício– cruzam as estradas do Espírito Santo à procura de um carro: um antigo Maverick que pertenceu ao pai deles, Ramiro. Embora tenham pouco apreço pela figura paterna, o velho carro é impregnado de memórias afetivas da infância. De Terra Vermelha, em Vila Velha, embarcam numa jornada pelo interior do Estado (e de si mesmos). Esse é o ponto de partida do novo livro de Saulo Ribeiro, que será lançado nos próximos dias no centro-norte capixaba.
Quinta-feira (19), de 19 às 21 horas, o lançamento de Os incontestáveis será na Faceli, em Linhares. Na sexta (20), de 18 às 20h, Saulo Ribeiro lança o livro na Padaria Pão de Mel, no Bairro de Fátima (Ideal), em São Mateus. No dia seguinte, sábado, o lançamento será em pleno Forró da Tábua Lascada, em Pedro Canário, de 20 às 22 horas. Produzido em coedição com Cousa e Patuá, o livro tem 138 páginas e custa R$ 20.
Contemplado em 2017 pela Bolsa de Fomento à Literatura do Ministério da Cultura e com apoio da Lei Rubem Braga, de Vitória, o romance inspirou e foi inspirado pelo longa-metragem homônimo dirigido por Alexandre Serafini –ou Serafa, para os amigos. Isso porque o roteiro do filme foi escrito a quatro mãos por Saulo e Serafa. Contudo o escritor ressalta tratarem-se de duas obras distintas –ainda que tenham um roteiro de ações semelhante, partindo dos e chegando aos mesmos lugares.
“As obras têm em comum o espírito anárquico e inconformado. Rebelde, revoltado. Os dois irmãos mergulham nos excessos em busca de uma existência menos vazia, entediada, mas sem saber exatamente o que fazer. Uma visão de mundo particular, mas recheada de pesadelos comuns a todos nós. São obras aparentemente simples, mas muito ricas metaforicamente. O escritor e pesquisador Alexandre Moraes chama a jornada dos irmãos de cosmoviagem” – afirma Saulo Ribeiro, em mensagem à Rede TC de Comunicações.
A partir de julho, ele leva Os incontestáveis para outras cidades e estados, dentro do circuito nacional de autores do projeto Arte da Palavra, do Sesc. E, antecipa, também vai compor a programação da Casa do Desejo, durante a Flip, em Paraty (RJ).
Três mil quilômetros
Antes da parceria que deu origem ao filme, Saulo Ribeiro já vinha trabalhando em um romance de estrada. Tinha percorrido, aproximadamente, três mil quilômetros de moto tomando notas. E o título provisório era Três mil quilômetros. Paralelamente, ele e Alexandre Serafini, o Serafa, cogitavam produzir um documentário ou uma ficção sobre o Contestado capixaba.
“Uns amigos faziam uma paródia dos Passos de Anchieta, chamada Os passos de Udelino, indo a pé de Ecoporanga a Cotaxé, local onde o homenageado criou um estado independente nos anos 50. Eu e Serafa juntamos as duas coisas. Destruímos o romance inconcluso e empacado para criar o roteiro do longa. Roteiro pronto, mergulhei novamente no romance. Depois de uma série de viagens a Cotaxé e da participação nas várias edições do Seminário das Humanidades, evento que nasceu da caminhada maluca dos meus amigos, o romance foi ganhando elementos, estrada. É um processo de cinco anos, ou seja, o filme ficou pronto antes do livro” – afirma Saulo.
“O Espírito Santo tem uma história fascinante. O norte, apelidado carinhosamente por Bernadette Lyra de Capitania Perdida, é impressionante. Sou de Pedro Canário, divisa com a Bahia, cresci ouvindo aquelas histórias de fronteiras, mata derrubada, homens calados e armados” – ressalta o escritor.
SAULO RIBEIRO
Saulo Ribeiro nasceu em 1977, publicou o livro de contos Diana no Natal (2010), a novela Ponto morto (2010, com segunda edição em 2014), além das dramaturgias Cárcere (2009) e Corpo de delito & Rip e Cal (2013). Cresceu em Pedro Canário e vive entre Vitória e Piúma. É escritor, roteirista e editor de livros.