MARTHA ALVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A banda brasiliense de reggae Natiruts já era “good vibes” há 25 anos, antes mesmo do termo ficar popular no Brasil e perder um pouco do sentido de positividade, paz, amor e resistência que pregava o cantor jamaicano Bob Marley, que popularizou o gênero musical no mundo.

Alexandre Carlo, 46, compositor e vocalista do Natiruts, diz que hoje é normal ver o mundo acabando e ouvir as pessoas dizendo “good vibe”. Mas o entendimento que ele tem do termo vem da ideia original da África ancestral que é da saúde mental e de pensar positivo diante das dificuldades para ter força.

“Good Vibration Vol.1”, novo álbum da banda, com nove músicas, chega nesta sexta-feira (28) às plataformas digitais refletindo exatamente essa ideia original de “good vibes”. “O ‘Good Vibration’ vem fundamentar e ratificar o que é o Natiruts mesmo”, enfatiza Carlo.

Segundo ele, o disco novo vem com canções de estilos completamente diferentes, mas com a mesma linguagem da banda. “O conceito de reggae é misturado com a música brasileira, com essa vastidão que é a cultura brasileira”, explica.

O álbum nasceu durante a pandemia de Covid-19, após a banda ter que cancelar 30 shows de uma turnê pelas Américas do Sul e Central, Estados Unidos e Europa. Eles iriam divulgar um disco com sucessos da carreira para o mercado latino, que não chegou a ser lançado.

Carlo conta que, quando os shows foram interrompidos, a banda já tinha músicas inéditas que nunca tinham sido gravadas e decidiu juntar tudo em um disco. O “Good Vibration Vol.2” já tem oito canções prontas e deve ser lançado em 2022, junto com um documentário com toda a trajetória latina da banda.

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Parte do processo de produção do álbum, foi feito à distância. Carlos e Luiz Maurício, integrantes originais do Natiruts, em Brasília, e os músicos colaboradores que gravaram separadamente seus instrumentos das cidades onde estavam. Depois, tudo foi unido nas músicas.

“Como estava aquelas questões de protocolos sanitários contra Covid [de distanciamento social], a gravação não foi igual a outras, quando juntava todo mundo aqui [no estúdio de Carlo em Brasília]”, explica.

Apesar de toda a distância, o artista diz que foi o álbum mais colaborativo da história do Natiruts no sentido de que os trabalhos anteriores tinham canções feitas por ele e interpretadas pela banda, sem muitas participações.

Desta vez, Carlo canta com artistas brasileiros e estrangeiros, como o jamaicano Ziggy Marley, o espanhol Dani Macaco, o porto-riquenho Pedro Capó, além de Carlinhos Brown, Melim, Iza e a banda de reggae Planta e Raiz.

No disco, Carlo canta sozinho apenas a canção “Ela”, composta pelo cantor baiano Dja Luz, 32. Ele conta que havia recebido várias composições de reggae para um projeto para revelar artistas do segmento e se deparou com essa música. “Ela tem um quê de Natiruts”, afirma ele, que resolveu gravar.

Segundo o cantor, “Ela” fala de um sonho romântico de um poeta em relação à sua musa inspiradora. O clipe da música, também lançado nesta sexta, tem a participação da atriz Débora Nascimento, 35, e foi gravado no Museu Nacional de Brasília, projetado por Oscar Niemeyer.

Carlo diz que o conceito do clipe foi fugir da ideia de gravar um par romântico. Por isso, decidiu transformar o “ela” da música em Brasília, para homenagear a cidade. “Na [letra] ele fala ‘nas asas de um beija-flor’ e tem tudo a ver com as nossas canções”, explica.

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A atriz entra no clipe como uma representação feminina da cidade e a sua escolha foi devido ao seu estereótipo de mulher brasileira. “A Débora [Nascimento] é bem aquela figura meio que misturada, não é nem branca, nem preta, nem índia”.

Com o trio Melim, o Natiruts gravou “De Tanto Sol”, reggae para ouvir na praia, para relaxar, sem questionamentos. Já com a cantora Iza, 30, a música escolhida foi “Quero Tudo Good Vibration”, inspirada em um episódio de racismo vivenciado pelo maestro Pixinguinha (1897-1973). “Fala do preconceito, do racismo e da invisibilidade dos heróis negros”, diz Carlo.

A faixa “Reggae do Amor” foi composta pelo cantor Carlinhos Brown, 58, e gravada com o Natiruts em Brasília, antes da pandemia. “Ele tinha ido a Miami gravar com The Wailers, banda criada por Bob Marley. Me mandou duas canções incríveis e a gente gravou essa”.

O álbum também tem a participação do filho de Carlo, o cantor Pedro Alex, 21, na composição da música “Good Vibration”. Esta é a sexta parceria de pai e filho, sendo as cinco anteriores em outros álbuns. “Compor com o Pedro é legal, mas eu tento não ter aquela relação de pai para filho para não podar alguma ideia que ele tem”.

Com Ziggy Marley, 52, filho de Bob Marley e a atriz mexicana Yalitza Aparicio, a banda gravou “América Vibra”, disponível desde janeiro nas plataformas digitais e no Youtube. A canção pede a união dos povos da América e reivindica um mundo mais justo e amoroso.
“Foi ótimo gravar com Ziggy Marley. Mais do que isso, [a parceria] legitima o Natiruts como uma banda de reggae que encontrou um formato de reggae brasileiro que foi aceito pelos jamaicanos”.

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Em março, o Natiruts e o cantor porto-riquenho Pedro Capó, 40, lançaram a música “Todo Bien”, cantada em português e espanhol. Gravado entre Brasília e Miami, o vídeo usa da tecnologia para unir os artistas em uma narrativa leve e inspiradora que transmite positividade e energia. “Fala dessa força interior que a gente tem que buscar para enfrentar os desafios”, explica Carlo.

O álbum traz ainda as participações do cantor espanhol Dani Macaco, 48, que gravou a faixa “Rosa”, composta por Carlo, e que fala da cultura mediterrânea, catalã e de Barcelona, que ele adora. Os dois tinham regravado juntos, em 2019, a versão em português da música de “Lo Quiero Todo”, de Macaco, que foi lançada em maio deste ano.

Sobre lançar esse trabalho em plena pandemia, Carlo diz que o álbum é um trabalho, mas que os shows fazem falta. “Quando a gente está querendo fazer uma banda, o sonho é entrar em um estúdio, gravar um disco para fazer show, [sentir] a emoção do palco e da galera cantando”.

Ao mesmo tempo, o cantor diz que este momento de parada obrigatória de apresentações traz uma reflexão. Ele admite que ficou muito triste pelas pessoas infectadas e que morreram devido à Covid, mas também se deu conta que havia 23 anos que não parava.

“Comecei a refletir coisas que eu não tinha tempo para refletir, viver o que eu não tinha tempo, como, por exemplo, passar um final de semana com a minha família, mesmo de uma forma bem diferente, sem poder sair de casa e ir em uma sorveteria com as crianças”, afirma.

 

Foto do destaque: Bruno Ulivieri/Ofotográfico/Folhapress

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