Nos primeiros três séculos da nossa era, a comunidade cristã não festejava a data do nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo. Era o tempo das perseguições, das catacumbas, dos mártires: a rudeza dos tempos não era propícia para tal celebração. A vitória de Constantino, na ponte Mílvio, reverteu a situação: o edito de Milão (Itália), por ele promulgado, no ano 313, marcou o fim das perseguições. Assim, começou a ser celebrado publicamente, pela comunidade cristã, aquele acontecimento, que devia dividir a história humana em duas partes: antes de Cristo e depois de Cristo.
No início do cristianismo, a Páscoa era a festa por excelência, a maior, a única, pois, formava o “Kérygma”, o núcleo portante da pregação apostólica. No Império Romano, era celebrado com grande solenidade o dia natalício do Imperador. Aos poucos, de modo natural, foi sentida a necessidade de festejar, também, o dia do nascimento do Messias, pois Ele é verdadeiro Rei e Senhor, Libertador da humanidade de seus antigos males e da morte. Na impossibilidade de encontrá-lo nas Sagradas Escrituras, procurou-se uma data, carregada de simbolismo: era costume, na Igreja daquele tempo, colocar um sinal cristão, onde se encontrava algo de pagão.
Para comemorar o nascimento do “Verbo, que se fez carne”, nenhuma data parecia melhor do que a de 25 de dezembro. Não porque este dia fosse o mais provável: na verdade, era sumamente improvável que o Imperador, César Augusto, convocasse um recenseamento no inverno, pois, comportava longas e incômodas viagens para os seus súditos cumprirem a ordem de “registrar-se cada um na sua cidade”. A data de 25 de dezembro foi considerada a mais oportuna por bem outro motivo.
No solstício do inverno, em todo o império romano, celebrava-se a festa do “deus Mithra”: este era a encarnação do “sol oriens”, ou o “sol nascente”. Em Mithra, adorava-se o astro-rei que, vencido e sepultado em cada anoitecer, era bastante forte e soberano, para renascer em cada manhã, vivo, radioso e gerador de vida. Com absoluta naturalidade, os cristãos transferiram para Jesus Cristo os atributos do verdadeiro “Sol oriens” e puseram-se a festejar a 25 de dezembro o nascimento do Cristo, prefigurado pelo “sol oriens” dos Romanos, “Luz, que brilha nas trevas”, “Sol nascente”, que “do alto nos veio visitar”.
Papa Francisco convida, neste Natal, a “armarem em nossos lares, nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos comerciais, prisionais, nos lugares públicos um presépio, pois ele é a escola das mais altas virtudes humanas e cristãs. Ele, de fato, é um sinal, tão admirável, que não cessa de suscitar maravilha e gozo espiritual, pois o evento do Natal foi capaz de elevar a nossa condição humana, tornando-a participante da vida divina, implementando, deste modo, a fraternidade universal. O presépio, enfim, apela para descobrir o Menino-Deus da manjedoura no rosto de cada criança, sobretudo, se for fragilizada e necessitada”. Maria guardou no seu coração a mensagem divina, assim, nos ajude a meditar sobre o Natal do Senhor: alvorecer de um mundo novo, de justiça, fraternidade e paz.
(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)
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