Moradora de Guriri há mais de 30 anos, Elisaude Bonomo de Oliveira, 89 anos, frequenta e zela pela Capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes com auxílio de outras pessoas. Para a Reportagem, ela disse que a reforma e ampliação foram solicitados pelos frequentadores assíduos, que não teriam recursos para fazer os reparos e melhorias por conta própria, para a Prefeitura de São Mateus.
“Há tempos o Daniel [prefeito de São Mateus] falou que ia dar uma reforma na Capelinha. Estava caindo e nós não tínhamos dinheiro para reformar. Foi aí que ele mandou uma equipe vir aqui para verificar, fizemos uma reunião, e aconteceu. Mas isso gerou muitos comentários. Me faz pensar que ninguém chegou na Capelinha para perguntar se estávamos precisando de alguma coisa ou se alguém estava nos ajudando. Nunca ninguém fez isso!” – afirma.
Elisaude ressalta que a manutenção da Capelinha é feita pelo pequeno grupo que frequenta o local diariamente. Os recursos para limpeza, manutenção da eletricidade e outros, são levantados por meio de doações, rifas e sorteios entre amigos. “Graças a Deus, tem um filho de Deus que frequenta que é ótimo. Ele não é rico, mas ajuda, fez o que pode. Mas quando não pode mais ajudar, ficamos sem saber o que fazer. Foi então que apareceu a engenheira da Prefeitura [Grazieli Ferreira] e disse que iria reformar e todos nós aceitamos” – enfatiza.
De Iemanjá a Nossa Senhora dos Navegantes
Elisaude destaca que quando a Capelinha foi construída, era muito pequena e foi dedicada a Iemanjá. Na época ela morava no centro de São Mateus. Quando se mudou para Guriri, recorda que a pequena Capelinha estava abandonada. “Vi a Capelinha com a Iemanjá caída, uma imagem de Nossa Senhora dos Navegantes e um monte de redes velhas de pescadores jogadas por cima. Estava abandonada” – afirma.
Diante da situação, Elisaude frisa que convidou algumas amigas para ajudarem na limpeza do local. Ela entregou as imagens de Iemanjá para Arlindo Bonomo, que ela acredita ter sido o responsável por construir a Capelinha.

Foto: Divulgação
“Nós começamos a rezar e o número de pessoas foi aumentando. Certo dia surgiu a ideia de aumentar a Capelinha”. De acordo com ela, a obra foi feita a partir de doações dos próprios membros do grupo que participava das orações. Um deles, inclusive, trabalhou na obra. “Com um mês e onze dias nós fizemos a parte de trás e reformamos a da frente” – salienta.
Elisaude destaca que essa nova reforma e ampliação é extremamente necessária e pontua que o forro estava caindo, as telhas quebradas, com umidade e infiltração. “Reformar ia custar muito. Foi aí que entrou o pessoal da Prefeitura. O pessoal que nunca deu nada falou que ia fazer manifesto. Meu Deus do Céu!”.
A moradora de Guriri afirma que a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes está guardada na casa dela onde os fiéis mantêm as cerimônias todos os dias às 18h até que a obra seja entregue. O prazo estipulado pela Prefeitura é de 60 dias.
INSATISFAÇÃO
Algumas pessoas demonstraram insatisfação com a obra apontando que a Capelinha de Guriri é um ícone da história do Município e que não poderia ser “tocada”. Alguns afirmam que a originalidade não será mantida o que causou inconformismo. No entanto, como demonstram imagens antigas do local, a originalidade da Capelinha já havia sido alterada na reforma e ampliação feita há 30 anos.
A Reportagem buscou contato com algumas pessoas que se manifestaram no Instagram do jornal Tribuna do Cricaré, para que pudessem colocar o ponto de vista delas. No entanto, as ligações não foram atendidas.
DIOCESE
Devido a cobranças que também foram endereçadas ao bispo diocesano, Dom Paulo Bosi Dal’Bó, e ao pároco de Guriri, padre Jonathan Costa, a Diocese de São Mateus emitiu uma nota, assinada pelo bispo, esclarecendo que as obras “são de responsabilidade do poder público” e que “não dependem da aprovação da igreja”.
Na nota, o bispo lembra que, “apesar de a Capelinha não ter vínculo jurídico com a Igreja Católica Diocesana e Paroquial, a mesma é parte fundamental da cultura e símbolo de fé em Guriri”. Cita também que eventos como o Jesus no Litoral e a Caminhada de Fé “são exemplos da presença da Igreja junto à Capelinha”.
Foto do destaque: Divulgação