Na semana passada, a CPI dos Maus-tratos aos Animais da Assembleia Legislativa realizou audiência pública na Câmara de São Mateus para colher depoimentos e esclarecer a morte de um cão pinscher, conhecido como Hulk, fato ocorrido neste mês na Ilha de Guriri. O cão, de cinco anos, teria sido encontrado em estado agonizante e gravemente ferido, vindo a óbito. De acordo com a presidente da CPI, deputada estadual Janete de Sá, um homem de 44 anos foi apontado como sendo o causados dos maus tratos ao animal e deve ser indiciado criminalmente pelo ocorrido.
Para a médica veterinária mateense Kamila Coan Sarnaglia, maus-tratos não ficam restritos a agressões físicas. Segundo ela, o convívio das pessoas com animais de estimação é terapêutico, sendo que eles são amorosos e proporcionam alegria, companhia, lealdade, parceria de vida e guarda, entre outras qualidades.
Kamila sustenta a necessidade de tutores garantirem o bem-estar físico e mental do animal, incluindo cuidados com nutrição, higiene, saúde e acomodações adequadas. “Quando decidimos comprar ou adotar um pet deve ser levado em consideração que a média de vida de um gato são 15 anos e a do cão 12,5 anos, mas varia de acordo com o porte e raça”, reforça.
Ela afirma que os filhotes costumam ser “arteiros”. Na meia idade, os animais tendem a ser parceiros de acordo com a criação. Já na fase final de vida, eles requerem mais atenção, paciência, dedicação e cuidados, assim como são os seres humanos.
“O mínimo que o pet necessita é carinho, atenção, espaço compatível com o porte e espécie escolhida, alimentação, higiene do pet e do ambiente, vermífugos, vacinas, ectoparasiticidas, paciência com cada fase de vida e, acima de tudo, responsabilidade. São critérios mínimos e responsáveis para quem pensa em ter um pet. Assim entendemos o que é cuidar bem e de forma responsável” – afirma.
O que configura maus-tratos?
A veterinária Kamila Coan Sarnaglia esclarece que configura maus-tratos praticar atos de abusos, ferir ou mutilar, impingir o animal a qualquer tipo de sofrimento, seja ele físico ou psíquico.
“Resumindo: envenenamento, espancamento, mutilação, em específico orelha e rabo, enforcamento, queimaduras, abandono, encarceramento em ambiente sem higiene, estimular brigas, animais doentes sem atendimento veterinário, que necessitam de tosa e chegam a um estado crítico, animais constantemente com carga parasitária alta –pulgas e carrapatos–, e até mesmo a obesidade em estágio avançado” – aponta.
Sendo assim, Kamila reforça que cuidados básicos é a condição mínima para uma posse responsável de pet.
Proteção aos pets
De acordo com a veterinária Kamila, rotineiramente se presencia, “infelizmente, as pessoas ficam com medo de denunciar, ou por inimizades ou por medo de responder judicialmente, e até mesmo por retaliações imediatas e agressivas”, em casos de maus-tratos de animais.
Ela salienta que há leis atualmente que protegem o pet. “Assim, aquele que testemunhar qualquer tipo de maus-tratos deve saber que há leis para isso e uma vez que não denunciar, a testemunha se torna cumplice do criminoso, pois a vítima pet não tem como se defender. Reitero: devemos denunciar cada vez mais” – manifesta.
Como médica veterinária, Kamila diz que é possível identificar maus-tratos, “pois eles deixam vestígios e é possível e extremamente importante que seja realizado um laudo ou um atestado do médico veterinário para comprovar as lesões ou a causa da morte, nestes casos”.
Segundo ela, para denunciar, deve-se reunir provas através de fotos, filmagens, depoimentos de testemunhas. “Pode recolher depoimentos de testemunhas que atestem os maus-tratos” – sustenta.
Kamila aponta ainda outra questão, “não menos importante”, que é o caso de pets que fogem. “Achar um animal na rua não lhe torna tutor dele. Procure o dono, clínicas, associações da comunidade, protetores de animais. A posse indevida de animais encontrados na rua sem ao menos ter procurado o tutor é crime. E impedir o animal de conviver com seu tutor também é considerado maus-tratos” – complementa.
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