Apesar de viver em cima de uma cama há pelos menos um ano e meio, a mateense Esberta Evangelista dos Santos, que tem registro de nascimento datado em 18 de janeiro de 1905, completa nesta sexta-feira (3) 114 anos e 105 dias, e pode estar próxima do recorde de mulher mais velha do mundo. Segundo o Guinness Word Records, conhecido como Guinness Book, a posição pertence atualmente à japonesa Kane Tanaka, de 116 anos e 121 dias. Ela recebeu o título do livro dos recordes no dia 2 de março, numa casa de repouso na Cidade de Fukuoka, no sudeste do Japão.

A filha Anália cuida de Dona Caçula desde a morte do pai, há 40 anos. -Foto: Ademilson Viana/TC Digital

Dona Esberta, ou Caçula, como é conhecida no Bairro Vitória onde mora com a filha, o genro e o neto, é natural de Conceição da Barra, mais precisamente das terras quilombolas do Sapê do Norte. De acordo com a filha Iolália Cardoso, de 58 anos, que gosta de ser chamada de Anália, a mãe nasceu na localidade de Córrego Angelim, onde cresceu, casou-se e teve seis filhos. Há pelo menos 50 anos, mudou-se para São Mateus. Anália conversou com a Rede TC já que a mãe, mesmo lúcida e respondendo a algumas perguntas, não fala por longo período. A filha relata que a vida de Dona Caçula na roça foi difícil, de fome e muita miséria.

As dificuldades persistiram, mesmo após o nascimento dos filhos. “Era muita fome. Depois que ela ficou cega, meu pai era quem tinha que cuidar dos filhos. A gente chorava de fome e pedia comida, então ele catava mandioca na roça para fazer beiju” – relembra. De acordo com Anália, folhagens como de caruru e de língua de vaca, além de caranguejo que catava no manguezal, eram as misturas que o pai fazia na época para não deixar os filhos morrerem de fome.

Atualmente, segundo Anália, a mãe se alimenta apenas de comidas pastosas, não faz uso de remédios e também não tem diagnóstico médico para nenhum tipo de doença.

 

Cegueira após picada de cobra enquanto pescava

A filha Iolália Cardoso (Anália) afirma que sempre ouviu que a mãe Esberta Evangelista dos Santos (Dona Caçula) ficou cega após acidente com animal peçonhento. Anália detalha que a mãe foi picada por uma cobra, ao colocar uma armadilha para peixes, conhecida por muzenza. “Mãe contava que, depois da picada, ficou passando muito mal, sangrando muito, pelos olhos, boca, nariz, ouvido, e acabou ficando cega”, comenta Anália. De acordo com a filha, a mãe ficou cega alguns anos depois deste acidente, quando estava grávida. E após a cegueira, teve ainda mais um filho.

Segundo as contas de Anália, além dos seis filhos, dona Caçula tem mais de 30 netos, 10 bisnetos e 3 tataranetos. Esposo de Dona Caçula, Otávio Cardoso morreu há 40 anos, por complicações de diabetes, e Anália diz que respeita até hoje o último pedido que ele fez: que cuidasse da mãe e não a deixasse viver num asilo.

A casa em que vivem no Bairro Vitória, além de um pequeno comércio, onde vende produtos doados para ajudar na renda da família, ainda abriga uma igreja, Pentecostal Unidos Venceremos, que Anália construiu com doações. “Tudo é o querer de Deus, a gente vive pela fé”.

MAIS RECORDES

De acordo com reportagens publicadas na imprensa brasileira, em 28 de outubro de 2018, uma mulher de 111 anos e 90 dias foi considerada a mulher mais velha do Brasil. Alguns órgãos de imprensa ainda registraram, em julho de 2017, uma mulher com 116 anos em Aparecida (SP).

A história de Dona Caçula foi apresentada à Rede TC pelo historiador Eliezer Nardoto. O leitor pode indicar, à TC, nomes de outros mateenses centenários para reportagens especiais. Contatos pelo telefone 9.9988.8848, ou pelo e-mail [email protected].

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