SYLVIA COLOMBO

QUITO, EQUADOR (FOLHAPRESS) – Grupos indígenas que protestam contra o governo no Equador capturaram sete policiais em Quito, nesta quinta (10). São seis homens e uma mulher.

Há também jornalistas equatorianos presos, mas o número não foi confirmado. A imprensa havia entrado para cobrir a situação, e os indígenas liberaram apenas os estrangeiros.
Os agentes e os jornalistas são mantidos na Casa da Cultura, onde os ativistas estão acampados. A informação inicial era de que havia oito policiais capturados.

“Em nome do governo nacional, demandamos que qualquer diálogo se realize após a liberação deles e num clima de paz”, pediu o secretário-geral da Presidência, José Augusto Briones.

A apreensão aconteceu após o local ser invadido pela polícia na madrugada. Os agentes desrespeitaram um acordo entre os manifestantes e o governo que estipulava a Casa da Cultura como uma zona de paz, ou seja, uma área de repouso dos ativistas.

Os policiais também entraram em outras zonas de paz -a Universidade Pública Salesiana e o acampamento no parque El Arbolito-, aumentando a repressão contra os indígenas no oitavo dia de manifestações em repúdio às medidas de austeridade determinadas pelo presidente Lenín Moreno.

As forças de segurança atiraram bombas de gás lacrimogêneo e agrediram manifestantes com golpes de bastão, em uma tentativa de dispersar os manifestantes. Pela manhã, havia restos de objetos queimados e de barreiras recém-derrubadas no parque El Arbolito.

O levante, o pior no Equador em anos, ocorre devido a um acordo assinado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que garantirá um empréstimo de US$ 4,2 bilhões (R$ 17,05 bilhões) ao país. Em contrapartida, o governo tem de adotar medidas como o corte de um subsídio a combustíveis em vigor há quatro décadas.

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A decisão gerou um aumento de até 123% nos preços da gasolina e do diesel e revoltou a população. Na terça (8), o presidente disse que não voltará atrás nem renunciará.

Nesta quinta, as lideranças indígenas negaram que tenham começado diálogos de paz com o governo -como o presidente Lenín Moreno havia informado no dia anterior.

Além disso, a principal organização indígena do país chamou seus membros a radicalizarem as manifestações. “Nada de diálogo com um governo assassino”, disse a Conaie (Confederação de Nacionalidades Indígenas), em um comunicado assinado por seu presidente, Jaime Vargas.

Um indígena foi morto nas manifestações de quarta (9). É a quinta morte desde o início dos protestos. Ao menos 766 pessoas ficaram feridas.

Já no centro da cidade, o movimento do comércio começou a ser retomado, após estar quase totalmente fechado na quarta (9), em função dos protestos e de saques em mercados de comida em Quito e em Guayaquil.

Logo cedo, comerciantes levantavam as portas metálicas de seus estabelecimentos e retomou-se, em parte, o serviço de transporte público, embora muitas caminhonetes ainda circulassem pela cidade com passageiros na carroceria.

O presidente regressou a Quito na quarta à noite, para monitorar a situação com os manifestantes. Ele estava na cidade costeira de Guayaquil, a 400 km da capital, para onde transferiu a sede do governo devido à violência dos protestos na capital.

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Apesar disso, o clima nas ruas de Quito ainda é tenso. A poucas quadras do Palácio de Carondelet, sede do Executivo, havia bloqueios policiais. Além das placas de metal tradicionais, o cerco era reforçado por arame farpado.

A maior barreira se encontrava na esquina das ruas Guayaquil e Olmedo, cenário de um dos mais duros confrontos da última semana. Ali, os policiais cobriam os rostos enquanto montavam as barreiras. O cheiro de gás lacrimogêneo dos últimos dias era forte e fazia arder os olhos.

Houve várias passeatas pequenas entre a região central e a de El Ejido, áreas em que se concentram os protestos. Eram grupos pequenos, de menos de cem pessoas, cada um carregando bandeiras de suas etnias e nacionalidades. Espera-se mais protestos para esta quinta à tarde, além da realização de uma missa em homenagem aos mortos.

AGRESSÕES A JORNALISTAS

Organizações internacionais condenaram nesta quinta-feira (10) as agressões contra jornalistas durante os protestos no Equador. A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) lançou um comunicado pedindo que os profissionais dos meios de comunicação possam realizar seu trabalho.

Segundo a ONG Fundamedios, ao menos 59 jornalistas já foram presos nos protestos.

A CPJ (Comissão para a Proteção dos Jornalistas) também emitiu comunicado requisitando que as autoridades equatorianas interrompam o assédio contra os meios de comunicação.

A CPJ se expressou por meio de um documento em parceria com organismos de direitos humanos locais, como a Inredh (Fundação Regional de Assessoria em Direitos Humanos), a Comissão Equatoriana de Direitos Humanos, o Observatório de Direitos e Justiça e a Fundamedios.

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A CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) também expressou preocupação com relação às agressões sofridas pelos profissionais dos meios de comunicação.

“Recordamos os Estados que eles devem atuar sobre a base da legalidade dos protestos e com a premissa de não constituir uma ameaça à ordem pública. Para contribuir com a não repetição desses fatos, convocamos o Estado a avançar em seus esforços na abertura de diálogo e com absoluto apego aos direitos humanos”, disse a CIDH.

CRONOLOGIA DOS PROTESTOS
– ​21.fev
Equador e FMI acordam pacote de R$ 17 bilhões; órgão exige que país adote medidas de austeridade
– 3.out
Governo põe fim a subsídios de combustíveis, e preços sobem até 123%. Protestos começam e Executivo declara estado de exceção
– 4.out
Mais de 350 pessoas são presas e 21 policiais ficam feridos. Grupo de 47 militares fica retido em comunidade indígena
– 5.out
Trabalhadores do setor de transporte anunciam fim da greve, mas indígenas e sindicatos seguem mobilizados. Presos já são 379, e agentes feridos, 59
– 6.out
Vinte são presos por cobrar preços abusivos de alimentos. Um homem morre após ambulância ficar bloqueada em estrada
– 7.out
Presidente transfere sede do governo para Guayaquil e acusa seu antecessor, Rafael Correa, de tentar um golpe de Estado
– 9.out
Indígenas lideram greve geral no país

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