A empresa Technobras, criada para esterilizar especiarias, principalmente pimenta-do-reino, iniciou a instalação no Polo Industrial de São Mateus com a colocação dos primeiros pilares da estrutura principal. Em entrevista à Rede TC de Comunicações na tarde desta quarta-feira (11) na área em que a empresa está sendo instalada, o presidente Rolando Martin destacou que a expectativa é que a fase de construção esteja concluída em junho de 2025, com início da operação prevista para julho, começo do segundo semestre do ano que vem.
Com terreno de 40.072 metros quadrados (m²), Rolando destaca que nesta primeira fase a área construída será de 6.022m², incluindo um prédio de escritório, um de caldeira –para gerar vapor para esterilizar a especiaria– e um prédio principal onde será realizada a parte industrial. Já existe, no projeto original, a possibilidade de ampliação da área construída para acima de 10.000m².
Nesta fase inicial de instalação dos primeiros pilares, o presidente frisa que há sete pessoas trabalhando. Ele adianta que em janeiro ou fevereiro, esse número aumente para 120 trabalhadores. No total, a previsão é de gerar um total de 150 empregos somente na fase de construção.
Rolando explica que, quando iniciar o funcionamento, a Technobras irá gerar 30 empregos diretos, que trabalharão em quatro turnos. Ele lembra que a fábrica atuará ininterruptamente, 24 horas por dia, porque a caldeira, que trabalha com alta pressão, não pode parar. “A melhor coisa neste sistema é não desligar a caldeira. Se desligar e ligar de novo, a gente gasta muito combustível” – explica.
Esterilização na primeira fase
Rolando Martin explica que nesta primeira fase da operação, prevista para iniciar em julho de 2025, a Technobras atuará com uma máquina de esterilização. “Se tiver uma demanda maior, a gente compra uma segunda máquina” – explica. Ele adianta que com a instalação de outra máquina, a empresa poderá dobrar a quantidade de empregados.
Segundo ele, os equipamentos foram adquiridos na Holanda. E explica que, com a conclusão da instalação, inicia os procedimentos, como vistorias de órgãos reguladores, para a certificação e validação da fábrica.
Conforme explica Rolando, a empresa possui cinco acionistas: os exportadores Saconni Agroindustrial Comércio e Exportação Ltda, Grupo Soma, Agrorosa Importação e Exportação Ltda, ambas de São Mateus, Stefenoni Interagrícola Ltda, de Colatina, e Vitor Souto, de Salvador.
COMPLEXO
Rolando Martin avalia que a fábrica, na verdade, é um complexo de esterilização que pode atender diversas especiarias. Além da pimenta -do-reino, também esteriliza aroeira, macadâmia e até café, se houver interesse produtores em melhorarem a qualidade do produto tipo exportação. “O objetivo é esterilizar produtos do Brasil inteiro”, destaca.
O presidente da Technobras reforça que o empreendimento não servirá para atender somente os exportadores acionistas, mas também a qualquer empreendedor.
Procedimento serve para vencer barreiras da exportação
Rolando Martin relata que até recentemente presidiu a então Associação dos Exportadores de Especiarias (Acepe), que teve alteração do estatuto passando a ser denominada de Brazilian Spice Association (BSA), com sede em São Mateus. Ele afirma que na época foram detectadas essas barreiras sanitárias da comunidade europeia e dos Estados Unidos.
Conforme Rolando, o principal entreve é o problema com salmonelas. “A gente hoje não consegue exportar muita pimenta-do-reino por conta desse problema”, enfatiza. Ele explica que a comunidade europeia tem uma plataforma denominada Rapid Alert System dor Food and Feed (RAFF).
“E quando a pimenta chega lá, se tiver algum problema detectado, naturalmente esse sistema é disparado para toda a comunidade econômica. Então, esse Raff faz a inspeção já no porto. Se der positivo [para salmonela] o contêiner tem que voltar. Eles aumentaram a inspeção de 5% para 20%, depois aumentaram para 50% porque estava dando muito resultado positiva” – detalha.
Outro ponto que ele levanta é a exigência para que a pimenta-do-reino também seja inspecionada antes de sair do Brasil. “No entanto, isso gera mais custos para o exportador, pois precisa enviar o produto para o porto, coletar cinco amostras e levar para o laboratório em São Paulo. Mas, o resultado demora até 25 dias e faz com que neste período o exportador precise pagar custos com aluguel de contêiner e de espaço no porto” – frisa.
Segundo ele, esses são os motivos que levaram muitos exportadores a desistirem de enviar os produtos para o exterior. Pensando nisso, frisa que se chegou ao entendimento de que a solução é esterilizar o produto, o que levou à criação da empresa em São Mateus.
Agregar valor
Para Rolando Martin, a esterilização agrega muito valor para a pimenta-do-reino, carro-chefe nos planos da empresa. “Temos um produto tradicional, que a gente chama, que não tem qualquer garantia fitossanitária. E temos um produto esterilizado, que podemos ter uma alta segurança alimentar, consequentemente, agregando mais valor” – compara.
Rolando entende que a empresa gerará uma cadeia de desenvolvimento para São Mateus e região porque acredita que os exportadores poderão se interessar em instalar os seus empreendimentos no Município, próximo do local de esterilização.
CAPACIDADE
Conforme disse, a Technobras terá capacidade de esterilizar 11 mil toneladas de especiarias por ano na primeira fase –que terá uma máquina de esterilização. Com a implantação de uma segunda esterilizadora, essa capacidade poderá dobrar. Segundo ele, o investimento inicial é de até R$ 28 milhões.
Outro fator que Rolando lembra que poderá gerar mais desenvolvimento para o negócio é a proximidade com portos no Espírito Santo.
EXPORTAÇÕES
Segundo dados do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), no ano passado, de janeiro a outubro, foram embarcadas 51,5 mil toneladas de pimenta-do-reino para 77 países, que renderam 181,9 milhões de dólares em exportações ao Estado.
Foto do destaque: Wellington Prado/TC Digital