ISABELA PALHARES E ANGELA PINHO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo com a autorização para retomar as aulas presenciais, a maioria das faculdades e universidades de São Paulo optou por continuar com o ensino remoto no segundo semestre letivo.

As instituições dizem esperar o avanço da vacinação nas faixas etárias mais jovens, onde está a maior parte de seus alunos, para planejar o retorno de todos os cursos. Por enquanto, preferem só oferecer presencialmente as disciplinas e atividades práticas, que foram prejudicadas durante a pandemia.

O governador João Doria (PSDB) autorizou as instituições de ensino a funcionar com até 60% da capacidade para todos os cursos a partir de 2 de agosto. Até então, elas só podiam ter atividades presenciais para os cursos da área da saúde.

Nas três universidades estaduais paulistas, a decisão é pela continuidade das atividades remotas em todas as unidades. A avaliação é que houve boa adaptação ao ensino a distância e que haveria riscos desnecessários em retomar as aulas presenciais nesse momento.

“Mantemos nossa posição de associar o retorno à imunização completa. Conseguimos adaptar o ensino ao formato remoto e os alunos estão acompanhando bem, não há motivo para uma volta acelerada enquanto não há total segurança”, disse Antonio José Meirelles, reitor da Unicamp.

A universidade avalia que o retorno começará a ser planejado em setembro, quando a maior parte dos alunos já tiver sido imunizada. USP e Unesp seguem o mesmo planejamento, com a continuidade do ensino remoto.

“Novas orientações com relação ao retorno presencial deverão ser comunicadas”, diz a USP em nota. Conforme já decidido antes, em “situações excepcionais pontuais”, poderá haver aulas e atividades práticas presenciais.

O mesmo ocorre entre as faculdades privadas, que optaram, em sua maioria, por só retomar as atividades presenciais em cursos com disciplinas práticas, como os de engenharia.

“Havia uma preocupação muito grande com cursos que dependem de atividades práticas, mas não podiam ocorrer por não serem da área da saúde. A autorização do governo foi importante para que os alunos dessas graduações não fossem prejudicados”, diz Lúcia Teixeira, presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior).

Além da preocupação sanitária, os dirigentes das instituições de ensino temem que o retorno presencial possa prejudicar financeiramente os estudantes. Eles teriam de voltar a arcar com custos de transporte ou moradia na cidade em que estudam.

“São questões individuais, mas que precisam ser tratadas com responsabilidade pelas instituições de ensino para não aumentar ainda mais as desigualdades. Os alunos já estão se esforçando muito para continuar estudando durante a crise, é preciso cuidado para não criar novos problemas”, diz Teixeira.

Um levantamento feito pelo Semesp calculou que 850 mil alunos deixaram de estudar em faculdades particulares só no ano passado por causa da crise econômica provocada pela pandemia. Uma redução de 13,2% das matrículas do setor.

Entre as particulares, a Universidade Mackenzie é uma das que, por ora, não pretendem voltar com as atividades presenciais.

“Durante toda a pandemia, o Mackenzie tem se pautado por sua missão, que é de ‘educar e cuidar do ser humano, criado à imagem de Deus, para o exercício pleno da cidadania, em ambiente de fé cristã reformada’. E, portanto, sob essa perspectiva, nossa instituição tem se empenhado para garantir os melhores processos formativos e, principalmente, cuidar da saúde de nossa comunidade acadêmica”, diz a instituição em nota.

Já FGV (Fundação Getúlio Vargas) e Insper informaram que receberão alunos presencialmente, após a liberação do Governo de São Paulo.

No Insper, o limite será de 60% da lotação máxima das salas de aula. Não será permitida a permanência no campus sem atividades programadas. Quem quiser continuar acompanhando as aulas apenas online poderá fazê-lo. A FGV também adotará o sistema híbrido, com limite de até 50% da capacidade.

Na contramão das universidades estaduais e da maior parte das faculdades particulares, a Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado) decidiu retomar as atividades presenciais para todos os cursos, mesmo aqueles sem atividades práticas. As 73 unidades atendem cerca de 94 mil alunos.

O CPS (Centro Paula Souza), responsável pelas Fatecs, determinou o retorno presencial de todos os servidores e professores, com exceção dos que são do grupo de risco e ainda não estão completamente vacinados, para a reabertura das unidades. A volta dos alunos é opcional.

Ainda que a presença nas aulas não seja obrigatória, os estudantes são contrários e organizaram um abaixo-assinado contra a medida. Até a noite desta quinta (22), 8.000 alunos tinham assinado o documento.

“Eu ainda não me vacinei, não me sinto seguro em voltar e não há uma justificativa clara e plausível para que todos os cursos retornem presencialmente. Faço gestão empresarial, não tenho nenhuma disciplina prática”, diz Matheus Colaço, 29, que estuda na Fatec de Campinas.

A direção da unidade enviou um comunicado aos alunos dizendo que o retorno presencial é necessário para “atender o decreto do governador”.

Em nota, a superintendência do CPS disse atender as diretrizes do governo estadual e que só não irá ocorrer o retorno das aulas presenciais nas cidades em que houver decreto municipal limitando as atividades escolares. “Para os alunos, o retorno é facultativo neste momento e para os que optarem por não retornar, serão garantidas as aulas remotas.”

Apesar da afirmação de seguir diretriz do governo estadual, a volta das aulas presenciais nas instituições de ensino superior não é obrigatória no estado, uma vez que as atividades remotas continuam autorizadas, pelas autoridades educacionais estadual e nacional, até o fim do ano para todos os níveis educacionais.

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