LEO BURLÁ
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – O massacre por 5 a 0 sofrido para o Independiente del Valle na última quinta-feira (17), pela Copa Libertadores, trouxe à tona uma disputa interna cada vez mais aberta no Flamengo e colocou o técnico Domènec Torrent no centro do cabo de guerra. A ideia de sua demissão, inclusive, ganha força em meio ao debate interno de ideias.

Após a goleada, a delegação embarcou em voo fretado para Guayaquil, local do jogo de terça (22) contra o Barcelona, às 19h15, no Monumental, com as caras amarradas como ponto em comum, mas a divergência sobre o futuro do técnico como um fator de divisão.

Avalista principal da contratação do espanhol, o vice de futebol Marcos Braz sabe o tamanho da pressão, mas não gostaria de uma mudança agora, embora saiba que parte de seu capital adquirido com os títulos em série possa ser colocado em jogo. Do outro lado, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, vice de relações institucionais, capitaneia uma ala cada vez mais numerosa pela troca.

O antagonismo entre duas das mais importantes figuras da política rubro-negra não é de hoje. Curiosamente, escolha de treinadores sempre ampliou este racha, visto que Bap foi um entusiasta da vinda de Abel Braga. Após o fracasso com o treinador, coube a Braz buscar o português Jorge Jesus na Europa, mesmo a contragosto do desafeto.

Fato é que o responsável pelo futebol angariou pontos valiosos com o êxito do Mister e ficou com a incumbência de buscar o substituto. Após uma série de entrevistas ao lado do diretor Bruno Spindel, Braz voltou com Dome na bagagem e venceu a queda de braço momentânea.

Curiosamente, Bap gostava da ideia de trazer Miguel Ángel Ramírez, do Del Valle, justamente o treinador que impôs aos atuais campeões da Libertadores a sua pior derrota na história na competição. Na sexta (18), o dia no Equador foi de conversas ao pé do ouvido, encontros e debates.

Com o treinador na linha de tiro, Braz convocou uma coletiva para este sábado (19), em que negou disputas internas e rumores sobre demissão. “O Dome está dentro de um planejamento. Em nenhum momento foi discutida a saída. Aqui está quem manda é o Rodolfo Landim. Em nenhum momento foi pensado nessa hipótese”, disse.

“O resultado do jogo foi impensável, o Flamengo não pode perder de 5 a 0 na Libertadores, no Brasileiro, do Mundial, em nenhum lugar. Não faz parte da história do clube, não faz parte desta diretoria. Existe uma unidade e um planejamento. As derrotas acontecem, mas existem derrotas e derrotas. O que eu posso falar é que existe uma unidade”, completou o dirigente.

Mesmo com o discurso de apoio, a demissão de Dome ganha força na pauta rubro-negra. Marcos Braz já não surge como voz absoluta nos debates.

Na sexta, o grupo “FlaFut” divulgou nota firme exigindo a demissão imediata do treinador e de toda a sua comissão técnica. A ala política é a mesma de Dekko Roisman, integrante do “Conselhinho” do futebol e que está presente em Guayaquil. A carta, claro, não foi bem digerida por Braz, também atacado no texto.

Com um jogo decisivo na mira e ante o tempo escasso, Torrent fica pendente pelo desempenho contra o Barcelona. Um novo desempenho abaixo da crítica é a senha para abreviar sua passagem no Rio de Janeiro e coloca em xeque até o prosseguimento de Braz no cargo.

Inclinado a disputar uma vaga na Câmara dos Vereadores do Rio, o cartola poderia usar a troca no comando como a deixa perfeita para sair de cena.

Em meio ao jogo de xadrez da política rubro-negra, time, comissão técnica e a altíssima cúpula do clube procuram respostas para o vexame e o clima é pesado.

Há o entendimento que o comandante e os jogadores ainda não conseguiram ajustar a sintonia fina, mesmo que não haja ruídos de relacionamento ruim no dia a dia do Ninho do Urubu. Por outro lado, a cúpula detectou uma certa desmobilização após a saída de Jesus e as taças em série.

Estes embates no futebol não são os únicos da fogueira de vaidades recente da Gávea. Na época da discussão sobre a volta do futebol, Braz e o presidente Rodolfo Landim estavam em lados contrários. Ao passo que o mandatário queria que as atividades fossem retomadas o quanto antes, enquanto o vice destacava a explosão do coronavírus e ressaltava que não havia ambiente.

Apesar de manter uma relação cordial com o presidente, Braz não faz parte de seu círculo mais fechado de convívio. No episódio do não pagamento da premiação pelos títulos, o vice de futebol foi contra a decisão presidencial e defendeu o pagamento previamente acordado a jogadores e funcionários. Principal conselheiro do mandatário, Bap foi na direção oposta.

As razões mudaram, mas os personagens seguem os mesmos. Com Domènec sob fogo cruzado, a política rubro-negra segue fervendo já no clima da eleição presidencial de dezembro de 2021.

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