MARIA TEREZA SANTOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na última semana, a cidade de São Paulo registrou a madrugada mais fria para o mês de maio em 18 anos, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo).

Em momentos como esse, fica difícil conseguir sair da cama para ir à academia antes do trabalho ou correr no fim da tarde. Mas os portadores de problemas cardiovasculares que praticam atividade física precisam enfrentar ainda outra dificuldade nesse período. Especialistas alertam para o risco aumentado de doenças no coração.

“O frio faz com que o coração bata mais rápido, a pressão arterial cresça, os vasos das pernas se contraiam e ocorra uma liberação maior de hormônios, como adrenalina. Tudo isso eleva o risco cardiovascular”, relata o cardiologista Eduardo Pesaro, assessor científico da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo).

Foto: TC Digital

De acordo com o médico ergometrista Luiz Augusto Riani Costa, do Alta Excelência Diagnóstica do grupo Dasa, em São Paulo, esses eventos estão relacionados à adaptação do corpo à baixa temperatura.

É que, no frio, o organismo sente a necessidade termorregulatória de se aquecer. Isso envolve a liberação de adrenalina para intensificar a atividade metabólica e a constrição dos vasos sanguíneos para reduzir a perda de calor através da pele. Esses dois fenômenos fazem com que o trabalho cardiovascular cresça, sobrecarregando o coração e elevando a pressão.

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“Se o sistema arterial tiver áreas frágeis, elas podem se romper, propiciando um acidente vascular cerebral [AVC]. Além disso, como as artérias ficam ‘apertadas’, se houver placas obstrutivas, isso reduz a passagem do sangue, levando a um infarto, trombose ou um AVC isquêmico”, afirma o médico.

A possibilidade de isso acontecer é bem maior em pessoas com fatores de risco para eventos cardiovasculares, como obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol alto e histórico familiar.

E há ainda a influência de doenças respiratórias, que são mais comuns nessa época. “Estudos mostram que essas infecções pioram a situação do coração, aumentando o perigo cardíaco”, complementa Pesaro.

O cardiologista da Socesp conta que essa relação já é amplamente conhecida na comunidade médica, principalmente em países com clima frio ou temperado. Segundo a AHA (American Heart Association), no inverno a possibilidade de infarto cresce em até 30%. No entanto, a relevância desses problemas em países quentes, como o Brasil, não era muito clara até pouco tempo.

Por isso, em 2018, Pesaro, que também trabalha no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, participou de um estudo com outros especialistas do hospital, da USP (Universidade de São Paulo) e da NYU (Universidade de Nova Iorque), nos Estados Unidos, para verificar se o mesmo acontecia na capital paulista.

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Os pesquisadores coletaram dados de 76 mil hospitalizações por insuficiência cardíaca e 54 mil por infarto agudo do miocárdio em hospitais públicos da cidade ocorridos entre 2008 e 2015. O resultado mostrou que no inverno, as ocorrências de insuficiência eram 30% maiores que no verão. Já as de infarto eram 16% mais altas.

Mas o que isso tudo tem a ver com se exercitar? O cardiologista explica que, como a prática de atividade física é uma situação na qual o corpo é levado ao estresse e o coração naturalmente precisa trabalhar mais, o perigo acaba aumentado para pessoas com alta probabilidade de sofrer problemas cardíacos.

Como os cardíacos devem se proteger No entanto, isso não significa que essa população deva deixar de se exercitar quando a temperatura no termômetro cai, basta tomar alguns cuidados. O especialista da Socesp dá dicas simples: se agasalhar e procurar suar a camisa nos horários mais quentes do dia ou em locais fechados, como a academia.

Um lembrete importante é para o fato de as cidades no Brasil não serem tão bem preparadas para enfrentar temperaturas baixas. “Muitas vezes, em países tropicais, há uma certa negligência com o inverno. As roupas não são tão potentes, as construções não têm calefação e as janelas e portas não têm vedação apropriada”, lamenta Pesaro. Caso você faça atividades em espaços fechados, é necessário ficar de olho nisso.

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Reduzir a intensidade do treino também é uma estratégia interessante. Costa, o ergometrista do grupo Dasa, conta que ao parar subitamente de se exercitar – algo muito comum no frio -, o corpo sofre uma uma piora significativa na condição física geral, o que coloca a vida em perigo.

“Se eu paro de treinar, esse esforço aumenta muito porque estou descondicionado. Então, o coração acelera muito mais, a pressão dispara e haverá uma maior sobrecarga cardíaca para uma coisa que é cotidiana, podendo antecipar um evento cardiovascular”, alerta o ergometrista. Por isso, ao invés de parar, prefira diminuir a intensidade.

Claro, todas essas situações se tornam mais recorrentes entre quem é afetado por esse tipo de doença e não a controla. Então, estar em dia com os medicamentos e a avaliação médica também faz parte dos cuidados.

“Se sua pressão está desregulada, seus remédios não estão sendo tomados corretamente e você não está comparecendo às consultas de rotina, evidentemente qualquer exercício fica perigoso, não só no inverno”, finaliza Pesaro.

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