JOÃO VALADARES
RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – O governo de Pernambuco reagiu à divulgação de que a União quer liberar cruzeiros e exploração de naufrágios artificiais no arquipélago de Fernando de Noronha. Por meio de nota, alega que a ilha, um santuário ecológico com vários ecossistemas protegidos, não pode ser alvo de modelo predatório de turismo.
A informação sobre a liberação de embarcações turísticas de grande porte foi publicada em vídeo durante o fim de semana nas redes sociais do presidente da Embratur (Instituto Brasileiro do Turismo), Gilson Machado. Em visita a Noronha, ele aparece ao lado do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ).

O arquipélago de Fernando de Noronha pertence ao estado de Pernambuco (PE), no nordeste do Brasil. Foto: Divulgação

Em nota divulgada na noite desta terça-feira (4), o secretário estadual de Meio Ambiente, José Berthoti, diz que eles desconhecem os limites de capacidade de Fernando de Noronha.
“As referidas autoridades desconhecem a existência da limitação do número de visitantes em Fernando de Noronha e as consequências de colocar na ilha mais de 600 pessoas de uma só vez, como acontece no caso dos navios de cruzeiro”, diz.
Ouvido pela reportagem na manhã desta quarta-feira (4), Berthoti afirmou achar curioso que os conselhos gestores de preservação ambiental estejam reunidos na ilha e o tema sequer tenha sido debatido.
“A reunião está acontecendo agora e ninguém falou disso. Nem de liberação de cruzeiros e nem de novos pontos de mergulho com afundamentos artificiais. Fica parecendo muito mais uma opinião deles dois”, disse o secretário.
De acordo com a legislação, embasada pelo chamado plano de manejo, Fernando de Noronha tem capacidade para receber 85 mil pessoas por ano. Este limite já foi extrapolado. Só em 2019, por exemplo, 114 mil pessoas estiveram no arquipélago.
O secretário explica que a ilha é vulcânica e não tem fontes naturais de água. “Só a chuva, que é pouca, e também contamos com o sistema de dessalinização. Nós também não temos capacidade de armazenamento”, destaca.
Com mais gente na ilha, é preciso aumentar a infraestrutura para minimizar impactos ambientais. “O impacto administrativo é grande. O Brasil é rico em paraísos naturais. Noronha está extrapolada e você vai aumentar o número de visitantes e degradar o paraíso?”, questiona.
No ano passado, o governo estadual investiu R$ 10,5 milhões na requalificação do porto de Santo Antônio, construção de casas populares, creche e equipamentos para o hospital público do local.
No vídeo, Flávio Bolsonaro fala da necessidade de exploração turística do local.
“Sobre a questão dos cruzeiros marítimos, dos recifes artificiais, estamos desatando os nós dessa legislação para permitir que esse segmento seja muito melhor explorado no nosso país”, afirma.
Gilson Neto enfatiza o potencial do arquipélago para justificar a liberação de mais gente na ilha. “Noronha é um dos lugares com a maior vocação do mundo para o mergulho de contemplação. Acabamos de aprovar junto à Marinha mais 12 pontos novos de naufrágio para agregar ao turismo de Noronha como também estamos destravando a volta dos cruzeiros marítimos.”
O governo de Pernambuco é o responsável pela gestão do arquipélago, que conta com um unidade de preservação estadual e duas federais.
Desde o ano passado, o estado tem investido em programas sustentáveis. Dois deles são o Plástico Zero, que impede a entrada de embalagens plásticas descartáveis em Noronha e o Carbono Zero que, por meio de lei, determina a substituição gradativa dos veículos a combustão por carros elétricos.
Em 2019, a ilha foi alvo de polêmica após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em vídeo publicado em redes sociais, criticar o valor dos ingressos, considerado por ele “um roubo”, para turistas brasileiros (R$ 106) visitarem o parque (R$ 212).
“Isso explica porque quase inexiste turismo no Brasil”, disse Bolsonaro.
Após a polêmica, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou o arquipélago e afirmou, em reunião reservada, que a pesca de sardinha e os voos noturnos para Fernando de Noronha, proibidos por causa dos danos ao ecossistema, seriam liberados. As ações prometidas ainda não foram postas em prática.

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