SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a goleada por 6 a 0 sobre a Bulgária, a Inglaterra garantiu classificação para a Eurocopa de 2020. Mas o placar da partida foi o que menos importou no confronto em Sofia, marcado pelas manifestações de racismo da torcida da casa.

Durante o primeiro tempo, o árbitro Ivan Bebek parou duas vezes o jogo por causa de cânticos racistas do público. Pelo menos quatro vezes o lateral Tyrone Miggs, que fazia seu primeiro jogo pela Inglaterra, foi alvo de sons que imitavam um macaco.

Na primeira interrupção, o sistema de som do estádio pediu que os torcedores cessassem as ofensas. Na segunda, a partida foi suspensa temporariamente.

Pelo protocolo da Uefa, se o jogo fosse parado mais uma vez por causa de racismo do público, teria de ser abandonado. O técnico Gareth Southgate chegou a conversar com seus auxiliares sobre a possibilidade de retirar os jogadores de campo.

Para evitar o fim da partida antes do final do tempo regulamentar, o capitão da seleção búlgara, Ivelin Popov, foi conversar com algumas pessoas no alambrado, solicitando que os cantos e gritos fossem interrompidos. Parte do público que estava atrás de um dos gols (e de onde vinham as ofensas), foi embora no intervalo.

Imagens de TV mostraram torcedores da casa fazendo saudações nazistas. Outro mostrava uma camiseta em que havia o logo da Uefa e a frase “no respect” (sem respeito, em inglês), zombando da campanha “respect” (respeito) da entidade para tentar erradicar o racismo dos estádios.

Em entrevista no último domingo (13), o treinador da Bulgária, Krasimir Balakov, contestou os temores de que episódios de discriminação poderiam ocorrer na partida contra os ingleses.

“Nós não temos um problema como esse, ao contrário da Inglaterra”, afirmou.
Balakov é nome histórico do futebol do seu país, integrante da seleção que chegou às semifinais da Copa do Mundo de 1994.

A União de Futebol da Bulgária considerou “injusto” o plano anunciado dos atletas ingleses de abandonarem o campo caso algum deles fossem alvos de racismo.

É a segunda vez que um jogo entre as duas seleções é manchado por episódios de racismo. Em menor escala, o mesmo havia acontecido em 2013.

Após o jogo, o representante da Federação Inglesa, em Sofia, Greg Clarke, disse que a entidade esperaria o relatório da arbitragem a respeito do jogo para pedir à Uefa punições para a seleção da Bulgária.

“Nós queremos uma punição severa da Uefa porque não é a primeira vez que nossos jogadores são vítimas desse abuso. Quero uma análise muito séria dos acontecimentos pela Uefa”, pediu o dirigente.

O episódio coloca em xeque a capacidade da entidade europeia de impor punições severas a casos de racismo. O padrão tem sido impor multas ou fechamentos parciais de estádios, o que tem sido considerado pouco por especialistas.

“A Uefa tem como punição mínima o fechamento do estádio. Mas as autoridades às vezes parecem mais preocupadas em punir os jogadores por criticarem árbitros do que clubes por atos de discriminação cometidos por torcedores”, disse à Folha o diretor executivo da Fare Network, que documenta casos de racismo no esporte, Piara Powar.

Nesta temporada, jogadores como Romelu Lukaku e Kalidou Koulibaly, ambos negros, foram alvos de sons de macaco em partidas do Campeonato Italiano. O Cagliari, clube que os torcedores fizeram ofensas a Lukaku, disse que os barulhos e gestos não configuravam racismo.

Por comemorar um gol mostrando a marca de um patrocinador na cueca, o atacante dinamarquês Nicklas Bendtner durante a Eurocopa de 2012, foi multado pela Uefa em 100 mil euros (cerca de R$ 420 mil em valores atuais). Na última temporada, por episódios racistas, o Slovan Bratislava, da Eslováquia, foi multado pela entidade em 30 mil euros (cerca de R$ 126 mil).

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