JÚLIA BARBON
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A produção nacional do insumo que vai garantir a autonomia do Brasil na fabricação de vacinas contra a Covid-19 deve começar em maio, confirmou a Fiocruz nesta quarta (17). As adaptações na fábrica onde esse processo será feito, no Rio de Janeiro, já estão quase prontas, segundo a fundação.

Foto: Erasmo Salomão/MS/Agência Brasil.

A expectativa é terminar os ajustes em abril -quando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deve visitar as instalações para avaliar e certificar as condições técnicas- e iniciar no mês seguinte a fabricação dos primeiros lotes experimentais do imunizante da AstraZeneca/Oxford.

“É uma tecnologia nova, muito promissora, complexa, e certamente teremos dificuldades para colocá-la em marcha. Mas o nosso pessoal está muito dedicado e nós já estamos bastante avançados. As instalações já estão praticamente com as adequações quase todas prontas”, disse o diretor da fábrica de Bio-Manguinhos, Maurício Zuma.

Inicialmente a ideia era entregar as vacinas 100% nacionais a partir de agosto, somando 110 milhões de doses até dezembro, mas, agora, Zuma já fala do início em “meados do segundo semestre”. “Tudo que a gente pode fazer para antecipar estamos fazendo”, afirmou nesta quarta (17) em entrevista coletiva que marcou a entrega das primeiras doses envasadas na fundação, no Rio de Janeiro.

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O general Eduardo Pazuello, que está de saída do Ministério da Saúde, reforçou que os equipamentos já estão instalados e os engenheiros químicos estão capacitados. “Temos hoje a capacidade de fabricar o IFA [insumo farmacêutico ativo] já instalada, pronta. Não existe mais [a pergunta]: será que vamos fabricar o IFA?”, declarou.

Ele defendeu que assinar o acordo de transferência de tecnologia de uma vacina até então em desenvolvimento foi uma “decisão audaciosa” do ministério e da Fiocruz. “As pessoas não compreendem o que é a tomada de uma decisão em julho de algo que você vai ter na mão para combater a pandemia e salvar vidas só no outro ano.”

Participou também da entrevista o futuro ministro Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que repetiu que a vacinação só terá resultado visível a médio prazo e que o aumento atual das mortes será reduzido com dois pontos principais:

“Primeiro com políticas de distanciamento social próprias, segundo com a melhora da capacidade assistencial dos nossos serviços hospitalares”.

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Ele voltou a afirmar que “a política pública é do presidente da República” e que haverá continuidade na gestão. Também reforçou que “a imprensa é aliada” e que a população precisa ajudar. “Não adianta só o governo ficar recomendando o uso de máscaras se as pessoas não são capazes de aderir a esse tipo de medida simples, que não demanda grandes custos”, criticou.

ENTREGA DE VACINAS

A Fiocruz começou a entregar nesta quarta, após uma série de atrasos, as primeiras 500 mil vacinas envasadas no Brasil a partir do insumo importado da China. A previsão é que outras 580 mil sejam enviadas até sexta (19), somando mais de 1 milhão de doses até o fim de semana.

Até agora, todas as doses desse tipo usadas no país haviam sido compradas prontas do Instituto Serum, na Índia, para compensar a demora na produção. Elas correspondem a 25% das 12 milhões de unidades já aplicadas nos brasileiros, ante 75% da Coronavac, do Instituto Butantan, em São Paulo.

Até o final de março, a Fiocruz planeja enviar um total de 3,8 milhões de doses ao governo federal. Isso representa só um quinto da quantidade anteriormente calculada pelo ministério (16,9 milhões) e um quarto do previsto pela fundação (15 milhões) nesse prazo.

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Nesta quarta, a fundação disse que trabalha com a previsão de remessas semanais de cerca de 6 milhões de doses até julho, até que se somem as 100,4 milhões previstas em contrato (sem contar as importadas). A capacidade de envasamento deve aumentar nas próximas semanas, passando de 250 a 300 mil doses diárias para 1 milhão.

Mas as remessas dos próximos meses já sofreram mais alterações nesta semana. O cronograma apresentado pela Fiocruz nesta terça (16) ao Programa Nacional de Imunizações prevê 8,9 milhões de doses a menos em abril.

O calendário cita 21,1 milhões de doses em abril, 26,8 milhões em maio, 27,4 milhões em junho e 21,2 milhões em julho. No dia anterior, Pazuello havia dito que a previsão era de 30 milhões em abril, 25 milhões em maio, 25 milhões em junho e 16,6 milhões em julho.

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