JULIANNE CERASOLI
LONDRES, REINO UNIDO (UOL-FOLHAPRESS) – Os espectadores mais atentos já notaram uma diferença na transmissão das corridas da Fórmula 1 nesta temporada: há menos rádios sendo mostrados ao vivo e a comunicação entre as equipes e a direção de prova deixou de ser veiculada. Essa foi uma das medidas pedidas pelos times depois da final polêmica do campeonato do ano passado e foi recebida com alívio pelos team managers, profissionais mais atingidos pela mudança.

“Conscientemente ou não, [a transmissão das mensagens] faz diferença. E não de um jeito positivo”, admitiu o diretor de corrida da Ferrari, Laurent Mekies, responsável por essa comunicação com a direção de prova na Scuderia. “Você tem alguns segundos para passar uma mensagem crítica e é bom poder fazer isso sem a pressão de ser ouvido por tantas pessoas. Tenho certeza que seria o mesmo em qualquer meio”.

Mekies é um personagem particularmente interessante porque o francês trabalhava na Federação Internacional de Automobilismo e era considerado o substituto natural do ex-diretor de prova Charlie Whiting até trocar a FIA pela Ferrari no final de 2017. Pouco mais de um ano antes da morte repentina do britânico, em março de 2019.

Foto: Instagram / @F1

Foi na lacuna deixada por Whiting que Michael Masi foi alçado ao cargo de diretor de prova da F1. O australiano conviveu com o desafio de obter consistência nas decisões, mas também foi ficando com a imagem arranhada ao longo da temporada 2021 quando as conversas dele com as equipes começaram a ser transmitidas. Especialmente nas últimas duas corridas, na Arábia Saudita e em Abu Dhabi, a impressão que ficou é que Masi estava pressionado e ouvindo demais os times que, como de costume, buscavam induzi-lo a tomar decisões que os favorecessem.

Masi perdeu o emprego e várias outras medidas tomadas nos últimos meses mostraram uma tentativa de blindar a direção de prova, que agora é alternada entre Niels Wittich e Eduardo Freitas. Uma das medidas foi justamente deixar de transmitir as mensagens que, como defende Mekies, são uma ferramenta importante a ser usada durante a corrida.

“A comunicação direta entre a direção de prova e as equipes é uma parte importante do equilíbrio do fim de semana. É uma forma importante de troca em situações difíceis, quando precisamos de um conselho rápido ou uma resposta. E acho que é melhor que essa relação de trabalho fique longe da transmissão. Tenho certeza que os fãs pensam de outra forma, mas para nós é diferente saber que estamos falando algo de maneira privada para o diretor de prova e saber que o mundo inteiro vai ouvir. Acho mais saudável não ter a pressão de milhões de pessoas assistindo.”

Essas comunicações geralmente ocorrem para chamar a atenção do diretor de prova a algo que está acontecendo ou para questionar se o piloto precisa devolver a posição em uma ultrapassagem duvidosa por exemplo. Mas a avaliação geral é de que as equipes estavam exagerando, até em função da posição enfraquecida de Masi ao longo do tempo.

Pilotos seguem tendo as mensagens transmitidas ao vivo
O rádio dos pilotos segue liberado nas transmissões do aplicativo da Fórmula 1 e alguns áudios selecionados aparecem na transmissão e ajudam na compreensão do que está acontecendo na pista. Mais acostumados a isso, eles não se preocupam tanto quanto seus chefes. E reconhecem que, muitas vezes, podem soar mais ríspidos no calor do momento.

“Normalmente, você só percebe depois que já saiu da sua boca. E aí que você pensa ‘ok, essa ideia foi ruim’ ou ‘isso foi ok’. As pessoas têm que entender que, quando você está correndo a 300km/h, as emoções e a adrenalina são tão altas e intensas que às vezes o que você fala é baseado em emoções e pode não ser a maneira mais educada de falar. Não quer dizer que somos pessoas ruins ou agressivas. É parte da competição”, explicou Pierre Gasly.

“Eu jogo a minha vida nisso, trabalho o tempo todo para ser o melhor, e às vezes quando acontece alguma coisa que eu não acho justa, não vou dizer ‘ah, que pena’. Quando eu cheguei na F1 eu tinha muito mais dificuldade com isso em comparação com agora. Ainda assim, às vezes sou agressivo demais.”

Um piloto que ficou marcado por mensagens agressivas no rádio foi Lando Norris, que mandou o engenheiro calar a boca quando liderava o GP da Rússia e começou a chover.

“Ele sabe que eu não falo por mal, que é coisa do calor do momento”, disse o inglês, deixando claro que sua preocupação é menos com a maneira como o público vai interpretar o que ele diz ou a forma como ele se comunica no rádio e mais com como ele pode ajudar a equipe a tomar as decisões certas.

“Não sabia o quanto eu estava berrando. Eu pareço uma criança. Mas não foi minha intenção. Conversamos sobre isso e acho que, mesmo se tivesse respondido de uma maneira educada ‘não, não gostaria de parar’, isso não teria mudado o resultado do que fizemos. Porém, é possível que a maneira que eu falo ou mesmo se conseguir dar mais informação à equipe são coisas que podem fazer a diferença no futuro.”

Pelo menos no caso dos pilotos, isso é algo que vai seguir sendo importante internamente e também para as transmissões.

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