IVAN MARTÍNEZ-VARGAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro gera confiança no mercado e acerta mais do que erra, opina o empresário Carlos Guerra, diretor-executivo e fundador da rede de fast food Giraffas.
Para ele, a condução da economia é a melhor desde a redemocratização do país. Ele afirma que as medidas de Guedes são racionais e que elogia a reforma da Previdência. Com a taxa de juros a níveis baixos, ele diz acreditar que o Brasil tem uma “oportunidade única” de crescer.

Carlos Guerra, diretor-executivo e fundador da rede de fast food Giraffas. Foto: Reprodução

Apesar disso, Guerra criticou em entrevista à Folha de S.Paulo o governo Bolsonaro pelo que considera uma postura desnecessariamente conflituosa.
Para ele, o governo “teima em errar” ao entrar em discussões “que não eram necessárias, buscando conflitos de toda ordem”, citando como exemplos as áreas ambiental e cultural. Isso, segundo o empresário, pode colocar em risco oportunidades na seara econômica.

Folha – O senhor diz que o Giraffas cresceu mais que a meta em 2019. Como conseguiu isso?
Carlos Guerra – A meta era um pouco menos de 9% e crescemos cerca de 12%. A nossa base estava um pouco baixa nos últimos anos, apesar do segundo semestre do ano passado ter sido bom. Nos últimos três anos, fizemos uma reformulação importante no cardápio.
Melhoramos a nossa linha top, lançamos uma linha para compartilhar. Isso tudo fez com que o nosso tíquete médio aumentasse bem acima do mercado, algo em torno de 9% – O mercado como um todo cresce 0,5%. As pessoas estão gastando mais, um pouco porque dois consumidores passaram a consumir num tíquete único. O gasto por consumidor no Giraffas aumentou porque trouxemos um consumidor com maior poder aquisitivo e lançamos linhas que geram maior valor agregado.

Folha – Temos observado uma alta no preço da carne que pressiona margens do setor. Os senhores fizeram reajustes nos preços?
Carlos Guerra – Não repassamos isso totalmente ao consumidor, até porque achávamos, e está acontecendo, que está havendo uma acomodação de mercado. Nosso reajuste foi segmentado apenas aos produtos com carne bovina, e foi um aumento na faixa de 3 a 4% para recompor em parte [a inflação]. Alguns dos nossos parceiros também absorveram um pouco, eles retardaram ao máximo esse aumento para a gente. Não acreditamos que o preço vá voltar aos níveis de setembro ou outubro, mas menor que o de hoje [final de dezembro]. Não temos previsão de aumento no cardápio pelos próximos seis meses.
Mas realmente, teve um momento em que chegou a deixar a gente quase em pânico, não só pelo preço, mas também pela possibilidade de faltar o produto. Mas não aconteceu, e a tendência agora é melhorar. Vai haver uma diminuição do consumo. Além da questão da China, temos uma pressão sazonal e a gente acha que isso vai se acomodar de uma forma razoável a partir de janeiro.

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Folha – Com a queda na taxa de juros, a inflação controlada e as reformas que o governo prevê fazer, como o Giraffas vê 2020?
Carlos Guerra – Estamos otimistas, a taxa de juros atual nunca foi praticada no Brasil, é algo novo. Não acredito que chegue até o consumidor muito rápido, mas acho que vai mudar bastante a forma como as pessoas vão investir no país. Do ponto de vista macroeconômico, estamos projetando 10% de crescimento nominal para uma economia com crescimento de 2%. Mas a verdade é que se a gente tivesse um ambiente político mais distensionado [seria melhor], se houvesse uma concentração de esforços em coisas mais propositivas do que na média que a gente vê no dia a dia deste governo.
Ele acerta em algumas coisas, mas teima em errar em outras que não eram necessárias, buscando conflitos desnecessários de toda ordem. Talvez nunca tenhamos tido uma situação macroeconômica tão favorável para o crescimento de investimentos como agora. Se não aproveitarmos essa oportunidade, será uma pena. O próprio investidor estrangeiro vê com alguma preocupação alguma discussão etérea que está sendo discutida.

Folha – Por exemplo?
Carlos Guerra – Não queria entrar nessa seara, mas tem questões como a Amazônia, que poderiam ter sido discutidas de maneira diferente, questões envolvendo a área da cultura, relações com a imprensa e certos arroubos desnecessários.

Folha – E como avalia a condução da política econômica e a equipe do governo?
Carlos Guerra – As propostas são profundas. Eu estava pessimista com a continuidade da reforma tributária, que é super necessária, tanto quanto a da Previdência e novamente está se falando em levar isso a uma solução.
Vejo uma equipe muito competente, de pessoas super bem intencionadas e realmente trabalhando. Podem até priorizar algum tema, mas estão no caminho certo. A equipe econômica é a melhor desde a redemocratização, gera muita confiança no mercado e estão acertando muito mais do que errando. Se não houver nenhum agravamento da disputa política que envolve outros fatores, acredito que vamos ter um período de crescimento por mais tempo.
Sou o fundador do Giraffas. Comecei em 1981, no tempo da ditadura. Depois passei pela redemocratização. Dessa época para cá, do ponto de vista econômico, nós experimentamos de tudo o que era possível no Brasil. Planos econômicos, hiperinflação, congelamento de preços, moratória de dívida externa, absoluta falta de produtos, Sarney mandando caçar boi no pasto, confisco de poupanças. Já vimos todas as loucuras possíveis. O que está sendo feito hoje é a coisa mais racional em matéria de política econômica. Coisas discutidas e feitas com calma. Depois de ver essa taxa de juros ao mês [4,5%], vejo ao ano. Temos de abraçar, é uma oportunidade talvez única.

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Folha – No ano passado, várias redes de fast food fizeram campanhas icônicas buscando valorizar a diversidade, por exemplo. Vocês vão abraçar esses valores?
Carlos Guerra – Temos uma forma de atuar até parecida como alguns desses concorrentes que usam eleições para fazer vínculo, fizemos alguns ligados a séries famosas, por exemplo.
Mas as marcas têm se posicionado em relação a valores. É melhor não entrar em polêmicas ou tudo bem?
Algumas realmente não são convenientes. Não temos o objetivo de defender uma causa. A nossa causa, que historicamente defendemos, é a da alimentação saudável, especialmente para crianças. A outra é termos um produto adequado para todo tipo de consumidor. Lançamos a linha vegetariana em 2019. Estamos procurando algumas outras alternativas para avançar nessa questão.
Um tema cada vez mais sensível é a promoção de diversidade e igualdade de gênero dentro das empresas, inclusive em cargos de lideranças. Como vocês veem essa tendência e como é no Giraffas?
Não vemos isso como um objetivo. Isso é natural no Giraffas, sempre tivemos esse comportamento inclusivo. Tratamos essa questão com simplicidade e espontaneidade. Não é um comportamento proposital, é natural.

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Folha – A maioria dos colaboradores é masculina ou feminina? Como está a distribuição nas posições de liderança?
Carlos Guerra – É bem distribuído. Não temos essa estatística, porque a gente não gosta de controlar isso. Tivemos uma festa da empresa e pudemos constatar que temos mais mulheres que homens, inclusive em postos de gerência. As coisas acontecem principalmente considerando a eficiência, a capacidade, as realizações, sem ter nenhuma outra relação com outro fator. Foi uma constatação visual.

Folha – O senhor reassumiu a gestão da companhia e fez uma série de mudanças estruturais. Como está o Giraffas hoje? Como é a estrutura de governança e qual a participação do seu filho na empresa?
Carlos Guerra – Nos últimos anos, as dificuldades fizeram com que a gente tivesse que buscar o máximo de qualidade de gestão possível e também de experiência. Parte do meu retorno se deve a isso, [tenho] maior experiência de mercado.
Também ao fato de que Alexandre [Guerra, filho de Carlos] queria experimentar uma carreira política. [foi candidato ao governo do Distrito Federal pelo Novo, e teve 4,2% dos votos]. Foi bem e é possível que fique na política por mais algum tempo, ele gosta. Mas também está tendo outras atividades, como palestras, tem negócios fora do Giraffas, participa de outros conselhos de empresas. Aqui, ele participa no âmbito do conselho de administração. No dia a dia, desde 2018 não está mais.
O que aconteceu é que devido ao processo recessivo, enxugamos bastante a companhia. Fechamos escritórios, reduzimos a estrutura. No final, a empresa se tornou mais eficiente. Fizemos um trabalho de foco no nosso negócio principal que é sermos franqueadores. Temos sete restaurantes próprios e 400 franqueados. Temos aberto um número razoável de lojas, mas nestes últimos anos temos fechado lojas também. Estamos crescendo principalmente na região Sul. A partir de 2020, o que tinha que fechar já fechou. Mas esse movimento está no final. Esperamos 40 novas lojas para 2020.

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