A realidade da agricultura brasileira e seus negócios associados, o agronegócio, mudaram muito nas últimas décadas. De importador de alimentos, nosso País passou a produzir para os 210 milhões de brasileiros e para mais 1 bilhão de pessoas de 150 países, sendo estratégico para a garantia da segurança alimentar no mundo como um todo.
Não há dúvidas de que o conhecimento, a tecnologia e a inovação foram imprescindíveis para uma verdadeira revolução no campo. Nos últimos 15 anos, a safra brasileira de grãos aumentou 124%, enquanto a área cultivada cresceu apenas 34%. Fruto da produtividade, que ampliou 134% neste período, um salto fantástico no conhecimento gerado pela ciência e aplicado na prática pelos agricultores. Em terras capixabas, avanço semelhante da produção por área cultivada foi verificado na principal atividade agrícola, a cafeicultura, além de várias outras explorações agropecuárias.
O fato é que o Agro precisou se reinventar para atender às demandas crescentes por alimentos. Contudo, o setor passa pelo enorme desafio da sustentabilidade: produção de alimentos com qualidade e conservação ambiental. Mais uma vez, tornou-se fundamental a evolução tecnológica, via inovação, como premissa para se produzir mais com menos, otimizando o uso dos insumos e poupando ao máximo o uso dos recursos, sobretudo os mais escassos e naturais. Essa é a nova ordem do dia!
A grande maioria dos agricultores já percebe claramente que, ao exaurir o solo, com técnicas ultrapassadas e inadequadas, num primeiro momento ocorre o aumento dos custos com fertilizantes e, num segundo, se inviabiliza o bem maior, que é a base de produção. A mesma lógica vale para a água, principal “insumo da vida” e da produção agrícola. Quem produz com recursos hídricos desprotegidos e utilizados com desperdício, estará fora do mercado em pouco tempo, pois não será competitivo em relação aos sistemas produtivos eficientes.
Em tempos passados, a consequência do uso inadequado do solo e da água na agricultura, determinando baixas produtividades, levava boa parte dos agricultores a “abrir” mais áreas agrícolas, exercendo uma pressão sobre os remanescentes nativos. Felizmente, esse procedimento ficou no passado, pois nosso país tem uma rigorosa legislação florestal, com órgãos eficientes na fiscalização e no controle em boa parte do território nacional, especialmente no Espírito Santo.
Nessa lógica, a agricultura de precisão (digital ou 4.0) avança pelo campo e será estratégica para a conservação e preservação dos recursos naturais. Nesse novo ciclo que já está em curso, a agropecuária está pautada na tecnologia de ponta, na automatização dos processos e na análise de dados em larga escala no setor de produção rural. A aplicação de técnicas sustentáveis, mais do que uma tendência, se tornou um imperativo para o abastecimento das cadeias produtivas alimentares para as próximas gerações.
Inteligência artificial, Internet das Coisas, GPS, drones, sensores, softwares, robótica, nanotecnologia e agrometeorologia são alguns termos, equipamentos e conceitos cada vez mais associados à agricultura de precisão. A informação, cada vez mais em tempo real, otimiza o uso dos insumos de produção agrícola, reduz custos e aumenta a margem de lucro dos agricultores. E ao gerar economia financeira, poupa o meio ambiente e garante a sustentabilidade, em todas as suas vertentes: econômica, social e ambiental.
Portanto, serão a ciência e o conhecimento aplicado, por meio de tecnologias e inovações de ponta, que irão acelerar a tão requerida sustentabilidade na produção de alimentos. Trata-se de um caminho único e sem volta!
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(*Enio Bergoli é engenheiro agrônomo, especialista em Administração Rural e foi secretário de Agricultura do Estado do Espírito Santo.)