LARISSA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em videoconferência com economistas do banco Credit Suisse na manhã desta quarta-feira (8), o presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou que os mercados ficarão mais fechados pós-pandemia.

Foto: Reprodução

“Haverá um distanciamento de países desenvolvidos e emergentes”, avaliou. Para ele, a geopolítica mundial ficará diferente depois da crise da Covid-19. “Parte do mundo questiona a concentração da produção de bens médicos em alguns países, principalmente emergentes, que se especializaram cada um em uma coisa nessas cadeias globais de valores.”
Ele ressaltou que, se a crise perdurar, “é consenso entre banqueiros centrais do mundo que países vão convergir para estímulo fiscal de 6% a 7% do PIB [Produto Interno Bruto]”, com aumento de gastos públicos por conta da pandemia.
Campos Neto também falou sobre as mudanças que a crise poderá trazer em acordos mundiais de melhores práticas bancárias. “A crise que nos fez voltar um pouco, as conversas mundiais mudaram completamente. Teremos um entendimento diferente do papel dos bancos, que não têm mais como apertar capital”, pontuou.
O presidente do BC tem conversado com o Senado Federal para que a autorização para que a autoridade monetária atue no mercado secundário de títulos privados seja aprovada na PEC do Orçamento de guerra, que deve ser votada na próxima semana.
“Conversei com senadores ontem e farei uma vídeo-chamada amanhã para explicar as medidas. Entendo que são inovadoras, novas no país, e a função do BC é explicar porque são importantes e o que vamos fazer com esses dispositivos. Que é importante ter, mas nem sempre vamos usar, traçando paralelo com outros países, mostrando resultados”, disse.
A iniciativa é uma forma de tentar destravar mais recursos. O BC poderá comprar diretamente créditos públicos e privados, algo que já é feito pelos bancos centrais de países desenvolvidos. “É um tema discutido também em outros países -como fazer com que a liquidez provida aos bancos chegue à ponta”, ressaltou.
Para ele, a possibilidade de comprar títulos públicos (de longo prazo) e privados gera estabilização no mercado, o que melhora também as condições de crédito. “Essa operação de comprar o longo [titulo de longo prazo] e emitir o curto [titulo de curto prazo] dá grande ganho de estabilização. Mas nós não gostaríamos de adotar esse tipo de intervenção de forma permanente”, salientou.
Ele defendeu a importância dos depósitos voluntários, trecho que foi retirado da PEC do Orçamento de guerra. A ideia era permitir que bancos repassassem recursos voluntariamente ao BC, na forma de depósitos à vista ou a prazo. Com isso, a instituição financeira que tivesse excesso de caixa poderia depositar uma parte na autoridade monetária e o valor seria remunerado com juros.
Hoje, os bancos são obrigados a fazer depósitos compulsórios -parcela de dinheiro que as instituições deixam retida no BC. Não existe a possibilidade de depósito voluntário.
“Essas medidas casadas com o depósito voluntário ganhariam mais potência”, frisou. Isso porque o BC não precisaria fazer operações compromissadas (venda ou compra de títulos públicos com compromisso de recompra em data futura) para enxugar o excesso de liquidez -oferta de dinheiro- no sistema financeiro.
As operações compromissadas são um passivo do BC que afetam diretamente a dívida pública bruta.

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