Foto do Instagram de Maradona.

ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Com Diego eu iria até o final do mundo. Com Maradona não daria um passo”
A frase do preparador físico e amigo do jogador, Fernando Signorini, é a tônica do documentário “Diego Maradona”, exibido pela primeira vez no início de outubro deste ano e exibido nos Estados Unidos pelo canal HBO. Ainda não há previsão de lançamento no Brasil.
O filme é dirigido pelo britânico Asif Kapadia, vencedor do Oscar em 2016 com com “Amy”, documentário sobre a vida da cantora Amy Winehouse.
Diego Maradona no camarote em São Petersburgo, na Rússia, antes da partida da Argentina contra a Nigéria, pela Copa do Mundo de 2018 Giuseppe Cacace-26.jun.18/AFP Diego Maradona no camarote em São Petersburgo, na Rússia, antes da partida da Argentina contra a Nigéria, pela Copa do Mundo de 2018      Assim como aconteceu em outros trabalhos de Kapadia, como “Senna”, sobre o piloto brasileiro Ayrton Senna, chama a atenção a quantidade de imagens de bastidores, familiares ou de antigas entrevistas do personagem. A maioria nunca antes vista pelo público em geral.
A narrativa de duas horas de duração é construída a partir dessas imagens. Não há entrevistas exclusivas feitas para o documentário de Maradona.
Existem depoimentos, mas eles são sobrepostos a vídeos antigos ou mesmo fotos.
Embora dedique trechos à infância pobre de Diego, ao Boca Juniors, Barcelona e na sua vida pós-futebol, a maior parte das duas horas de documentário refletem o período entre 1984 e 1991. Os anos de sua passagem pelo Napoli.
Maradona colaborou com o documentário. Há declarações suas, mas poucas.
“Quando cheguei a Nápoles, fui recebido por 85 mil pessoas. Quando fui embora, estava só”, ele cita nos minutos finais, após ser flagrado no antidoping pelo uso de cocaína em uma partida contra o Bari, pelo Campeonato Italiano.
Em entrevista para o diário inglês The Guardian, Kapadia definiu “Diego Maradona” como a terceira parte de uma trilogia de crianças precoces e fama. As outras duas seriam “Senna” e “Amy. Mas o caso do argentino vai além de simplesmente ser famoso ou genial. Trata-se sobre ser deus, mesmo que uma divindade com defeitos imperdoáveis, como o vício em cocaína e o não reconhecimento de Diego Armando Júnior, seu filho fora do casamento que encontrou apenas 30 anos depois.
Um dos momentos mais divertidos do documentário é quando o Napoli conquista o título nacional pela primeira vez, em 1987, e o cemitério da cidade amanhece com uma faixa dizendo “vocês não sabem o que perderam.”
“Não se pode falar mal de Maradona porque se você fala mal de Maradona, está criticando Deus e Deus não se pode criticar porque está sobre todas as coisas”, afirma um torcedor.
A adoração, uma benção após o período de decepção no Barcelona, começa a se tornar um fardo. O filme mostra como Diego se torna refém desse amor exacerbado porque não pode sair de casa, ir a um restaurante, ao teatro. Em qualquer lugar, é perseguido por uma multidão, pela imprensa ou ambos. Ele encontra conforto nos braços de Carmine Giuliano e sua família, chefe da Camorra, a máfia napolitana.
O próprio Maradona admite ter passado a confiar neles para suprir seu cada vez maior vício de cocaína. “Quando você começa a depender da Camorra, se torna sua propriedade”, constata.
Sua mulher Claudia Vilafañe observa que aquele não era mais o Diego que ela havia conhecido. Era outra pessoa. Era Maradona.
No filme, a queda é tão interessante quanto a ascensão. Quando ele continua amado em Nápoles, por exemplo, mas é detestado no restante da Itália, principalmente após a Argentina eliminar o país na semifinal da Copa de 1990 e na cidade que adotou como sua segunda casa.
Era a época em que ele já estava na descendente esportivamente, mas continuava, mesmo lesionado, capaz de levar uma seleção limitada a uma final de Copa do Mundo.
“Diego tinha inseguranças, mas era um garoto maravilhoso. Maradona era o personagem que teve de se inventar para estar à altura das exigências dos meios de comunicação e da mídia. Maradona não podia se permitir nenhuma fraqueza”, completou Signorini, o amigo que se afastou nesta época, mas retornou para colocá-lo em forma para disputar o Mundial de 1994.
O camisa 10 está sempre nessa contradição entre duas pessoas distintas. Algo que em muito lembra a dicotomia entre Edson Arantes do Nascimento e Pelé.
Diego não nega a mudança de personalidade.
“Sim, mas se não fosse por Maradona, eu ainda estaria na Villa Fiorito”, responde.
Villa Fiorito é a miserável cidade na região de Lomas de Zamora, na grande Buenos Aires. Seu único objetivo, ao começar jogar bola, era sair dali e dar uma casa aos pais.

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