MARCOS GUEDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Contratado para assumir o Palmeiras em 2020, Vanderlei Luxemburgo combate há algum tempo a pecha de ultrapassado. O treinador de 67 anos vai começar sua quinta passagem pelo clube alviverde tentando mostrar que tem a capacidade de repetir alguns de seus melhores momentos em verde e branco.
“Acho que me rotular como ultrapassado foi uma sacanagem”, disse o técnico, em entrevista recente, quando comandava o Vasco. “Só no futebol que se fala que o velho está ultrapassado. Na medicina, no direito, o cara fica melhor, mais sábio. Eu me sinto bem atualizado.”
No auge de seu sucesso, Luxemburgo foi visto e se vendeu como inovador. Da roupa usada à beira do gramado a um programa de computador com esquemas táticos, o técnico apresentou novidades na década de 1990.

NA ESTICA
Em sua primeira passagem pelo Palmeiras (1993-1994), Vanderlei Luxemburgo chamou a atenção por dirigir o time de terno. Essa prática não era comum no Brasil, com temperaturas mais quentes do que nos países da Europa, onde isso já era habitual. Mas ver a Alemanha campeã do mundo de 1990 lhe deu a ideia.
“Na Copa do Mundo, o [técnico Franz] Beckenbauer parecia um poste na beira do túnel. No banco, ele colocava o braço em cima do banco, com aqueles ternos, e o pessoal achava fantástico todo aquele estilo. Era muito bonito. E eu falei: temos que fazer o mesmo no Brasil”, contou o fluminense de Nova Iguaçu.
Hoje, Luxemburgo já não trata o terno como item obrigatório. Há jogos em que ele usa camisa polo ou com um agasalho do clube, como vinha fazendo no Vasco, sua equipe no último Brasileiro.

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FALSO 9
Não era exatamente algo inédito, mas a disposição tática do Palmeiras que enfileirou conquistas entre 1993 e 1994 era diferente da usada pelos adversários. O time atuava com uma espécie de falso centroavante, recurso que passou a ser habitual nos anos 2000.
Na formação alviverde da época, essa era a função de Evair, que fazia muitos gols, mas não era um típico camisa 9. Ele deixava bastante a área, o que abria espaço para as investidas de Edílson e Edmundo, em 1993. Um ano depois, Rivaldo substituiu Edílson na formação do ataque.

RADINHO E TIME 3-D
Em sua segunda passagem pelo Palmeiras (1995-1996), Luxemburgo colocou no clube Wagner Martinho, que bateu à porta com um programa de computador, o Tática 3-D. O software permitia a montagem gráfica da equipe para apresentações aos atletas e foi uma das ferramentas do time campeão paulista de 1996, que fez mais de cem gols.
Martinho passou a ajudar o técnico também com filmagens dos adversários, hoje ponto central do trabalho dos times, com grandes departamentos de análise de desempenho. Foi também nessa época que começou a se comunicar por meio de rádio com um auxiliar, que via o jogo de uma posição melhor para observações táticas.

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PSICOLOGIA MOTIVACIONAL
Foi também trabalhando com Wagner Martinho que Luxemburgo aprimorou suas técnicas para motivar os jogadores. Passou a usar vídeos, gravados em fitas, que apresentavam imagens dos familiares dos jogadores acompanhadas de frases que o técnico considerava impactantes, de filósofos antigos a autores modernos, como Paulo Coelho.
Até hoje, são célebres os discursos do treinador, que, se não exatamente inovadores, são certamente originais.
Antes da final do Paulista de 2008, por exemplo, fez os atletas vestirem faixas de campeão para que eles tivessem a certeza da vitória sobre a Ponte Preta. Entre gritos de “bota a faixa”, o técnico conclui. “Se vocês tinham alguma dúvida, ela foi dissipada agora”.

MANAGER
Luxemburgo buscou, nas vezes em que dirigiu o Palmeiras, ter influência em decisões da diretoria e participação maior na montagem dos elencos. Ele sempre citava o termo “manager”, usado na Europa para treinadores que cuidavam não apenas da parte tática, mas também tinham poderes administrativos.
A palavra passou a ser utilizada de maneira pejorativa por aqueles que criticavam essa busca por poder. Vanderlei questionou as críticas e defendeu sua visão de futebol na última vez em que foi apresentado no clube alviverde, na virada de 2007 para 2008.
“Eu sempre trabalhei auxiliando a diretoria nas contratações”, disse, defendendo-se das insinuações de que seus objetivos não eram esportivos. “Não existe nada de negociata, falcatrua ou sacanagem no meu trabalho. Não tenho participação em negociações.”

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