MARINA DIAS
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A pandemia do coronavírus vai causar um deterioramento fiscal nos países de todo o mundo e um aumento drástico em suas dívidas públicas.

Segundo relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgado nesta quarta-feira (15), a dívida bruta do Brasil deve subir quase dez pontos percentuais em 2020 e atingir 98,2% do PIB (Produto Interno Bruto).

O patamar é o mais alto entre as economias emergentes, o que torna o país ainda mais vulnerável a crises e choques externos.

O novo momento, porém, fará com que o aumento de déficits e dívidas públicas extrapole o Brasil e as economias emergentes, e atinja a todos os países do globo. A projeção é que a dívida bruta mundial aumente 13 pontos e chegue a 96,4% do PIB em 2020.

No ano passado, a dívida bruta brasileira era de 89,5% do PIB, mas o aumento acentuado para este ano, diz o FMI, é reflexo da queda de produção e receitas decorrente da pandemia e da necessidade de ampliar gastos principalmente no setor de saúde e de serviços emergenciais.

O México, por sua vez, chegará a uma dívida de 61,4% do PIB neste ano, bem abaixo do índice brasileiro, e a América Latina como um todo ficará na casa dos 78%.

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O governo brasileiro desconsidera os títulos do Tesouro mantidos no Banco Central e calcula a dívida pública do país entre 75% e 80% do PIB hoje. Em razão da diferença de critérios, portanto, não é possível fazer qualquer comparação com os dados divulgados pelo FMI.

No seu relatório Monitor Fiscal de outubro de 2019, ainda sem a pandemia em suas projeções, o Fundo avaliava que a dívida do Brasil chegaria a 93,9% do PIB em 2020, com um pico que seria atingido em 2022, de 95,3%, abaixo do nível que deve ser alcançado este ano.

A recuperação viria somente a partir de 2024, mas agora o cenário é ainda mais incerto e as retomadas fiscais e econômicas dependem de diversos outros fatores atrelados à duração e gravidade da pandemia.

No esforço de combater a crise sem precedentes desde a Grande Depressão de 1929, diz o FMI, os países precisam redirecionar seus gastos e políticas fiscais para “salvar vidas” e “pessoas e empresas mais atingidas” pela pandemia. Não são mais desejáveis em vários setores, por exemplo, políticas de estímulo a atividades em um momento no qual estão vigentes as regras de isolamento e distanciamento social.

Diante dessas e outras dificuldades, a dívida bruta nas economias desenvolvidas também deve disparar: o índice irá a 122,4% em 2020, em comparação aos 105,2% de 2019.

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As duas maiores economias do mundo, EUA e China, também verão uma escalada considerável de suas dívidas brutas. Nos EUA, o índice passará de 109% do PIB no ano passado para 131,1% este ano, enquanto na China o número irá de 54,4% para 64,9%.

O Fundo fala ainda em “aumento de déficit necessário e apropriado” a medida que os governos precisam redirecionar seus gastos e desenvolver políticas fiscais para agirem frente à pandemia, mas alerta para a dificuldade de países emergentes, como o Brasil, se recuperarem pós-crise.

“Embora o aumento considerável desses déficits esse ano seja necessário e apropriado, a situação mais preocupante é para mercados vulneráveis, emergentes e em desenvolvimento, que enfrentam múltiplos choques além da pandemia, como o agravamento abrupto das condições de financiamento, queda das demandas externas -caso dos exportadores de commodities”, diz o relatório.

 

“Mesmo após o esforço global para aliviar restrições de financiamento, esses países vão ter que redirecionar seus gastos à saúde ao invés de outros serviços.”

No Panorama da Economia Global, divulgado na terça (14), o Fundo projetou queda de 3% na economia mundial e previu recuperação de 5,8% no ano que vem caso a pandemia melhore até o segundo semestre de 2020.

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No Brasil, a projeção de retração foi de 5,3% para este ano e a recuperação prevista para 2021, de 2,9%.

A previsão do Fundo é que os gastos com saúde e com medidas de auxílio a pessoas e empresas também vão ter custos fiscais, atualmente estimados em US$ 3,3 trilhões no mundo todo. Já os planos de empréstimos, injeções patrimoniais e garantias totalizam US$ 4,5 trilhões.

As economias do G20, por exemplo, já ofereceram medidas de apoio fiscal que chegam a 3,5% do PIB, em média, o maior estímulo desde a crise financeira de 2008-2009.

Na França, Alemanha e Itália, países bastante impactados pelo novo coronavírus, os gastos foram de mais de 10% do PIB em pacotes para apoio, incluindo empréstimos.
O Brasil, na projeção do órgão, gastou cerca de 2,9% do PIB em ações de combate à pandemia.
O Fundo explica que os países devem redirecionar gastos a medidas que visem diminuir transmissões e descobrir tratamentos e vacinas para alcançar o que deve ser a prioridade do mundo hoje: salvar vidas.

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