A paternidade é a vocação mais sublime do homem, por fazê-lo participante do poder criador de Deus. Ao gerar um filho, o pai recebe a missão de acompanhá-lo em seu itinerário terreno. O lar é como o novo seio materno, que permite à criança evoluir: a educação é o prolongamento espiritual da paternidade corporal. O pai é chamado a dar aos filhos uma formação integral: além da saúde e dos estudos, também, o testemunho de uma vida de fé, despertando neles a capacidade crítica perante os antivalores, que o mundo apresenta, e a preparar os filhos para assumirem seu própria vocação e missão, na vida.
Na Bíblia, a imagem de Deus-Pai ocupa um lugar central. Também, no “Credo”, a Igreja professa: “Creio em Deus Pai todo-poderoso”. O termo “Deus”, nas páginas sagradas, sobretudo, no Novo Testamento, se refere sempre ao: “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Deus –o Criador do universo e do homem– é um Pai amoroso, que guarda o mundo na vida e na existência, buscando seu aperfeiçoamento. É Pai, sobretudo, do povo de Israel, que elege a seu povo; o liberta da escravidão; faz aliança com ele, no Sinai e lhe dá a posse da Terra Prometida, pois deste povo devia vir o Messias, o Salvador do mundo.
O Prólogo do Evangelho de São João diz: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, no-Lo deu a conhecer”. Ao revelar o verdadeiro rosto de Deus, Cristo trouxe uma grande inovação no relacionamento humano com Deus: do temor para o amor. Assumindo nossa condição humana –maravilha das maravilhas– optou por entrar na categoria dos excluídos, para estar sempre ao lado deles. Na Páscoa, se manifestou Salvador do mundo, quebrando as correntes, que aprisionam o homem por dentro, abrindo-lhe o caminho da comunhão com o Pai e da fraternidade universal.
A paternidade divina foi sempre uma força poderosa, impulsionadora de elevação humana e progresso dos povos. Os exclusivismos de raça, cultura e nação foram superados pela fé em um Pai comum, defensor da dignidade humana, sobretudo, das classes mais humildes. Enquanto, os motivos de solidariedade de raça ou de nação, como, as teorias filosóficas da igualdade natural entre os homens, se mostraram limitadas, egoístas e vazias, a mística em um Pai comum foi, ao invés, capaz de reconciliar o homem consigo mesmo e com os outros, chegando até o ponto de amar os inimigos.
O “Dia dos Pais”, neste segundo domingo de agosto, é a festiva comemoração dos filhos pelo pai terreno. Pai não tem dia: é todo dia. Sim, o dom da vida, da educação, do desvelo merece gratidão constante. Para além do amor de um pai terreno, quem de nós não sente a necessidade, em nossa sociedade massificada e despersonalizante, de ter o cuidado amoroso do Pai celeste? “Meu Pai é vosso Pai”: dando-nos seu Pai, como nosso Pai, Jesus, no seu amor extremado por nós, nos doou o mais doce, amável e rico dos pais.
(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)
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