Defendendo que as portas do Sistema Único de Saúde (SUS) devem estar abertas a toda e qualquer pessoa, o professor doutor Marcello Dala Bernardina Dalla reconhece que ainda há muitos desafios a serem superados para que o Sistema atenda à sua função principal, que é universalizar o acesso à saúde, principalmente na atenção primária. A avaliação foi feita em entrevista à Rede TC de Comunicações durante o Seminário Saúde Coletiva no SUS: desafios, avanços e perspectivas, que acontece no Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes).
Diretor na Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), o professor destaca a importância do SUS no enfrentamento das desigualdades sociais no Brasil e frisa que ele foi criado justamente com o objetivo de universalizar o acesso da população à saúde pública e de qualidade.
“Quando fala em universalidade, temos que abraçar toda e qualquer pessoa, independente de classe social, gênero, credo, raça, cor, etnia, o que seja. Somos um país extremamente desigual. Às vezes, as desigualdades são mais sentidas em determinadas áreas, populações que sofrem mais com as questões raciais, outras que vão sofrer mais com questões financeiras e, agora, mais modernamente, exclusão digital” – afirma.
Desta forma, segundo o professor, “podemos, entre aspas, escolher qual desigualdade que o SUS tem que estar preparado para atender”. Ele explica ainda que, historicamente, a população brasileira sempre foi extremamente carente de uma assistência adequada. “E ao longo desses anos, o SUS vem construindo como ponto-chave o acesso. Então, as portas, principalmente da atenção primária que a gente fala tanto, defende tanto, elas devem estar abertas para toda e qualquer pessoa, para todo e qualquer momento do seu ciclo de vida, idosos, crianças, adultos, e para todas as necessidades”.
Professor convida a conhecer o SUS
Apesar de elogiado internacionalmente como o melhor sistema público de saúde do planeta, o SUS recebe muitas críticas. Sobre esse assunto, o professor Marcello Bernardina salienta que é preciso conhecer o Sistema. “Eu entendo assim, e, claro, várias pessoas podem discordar, e tiveram pesquisas do Ipea e do IBGE que mostraram mais ou menos o seguinte: quem usa, elogia! Então, às vezes, a crítica vem de pessoas que não utilizam no dia a dia”.
Segundo ele, isso ocorre porque os serviços oferecidos pelo SUS, como a atenção primária, são de porta aberta. “Se a porta está aberta, a gente vai entrar. Quando a gente entra, e percebe que não está tão arrumado assim, tem coisas que a minha necessidade não vai atender. Infelizmente, por isso, ocorre muita judicialização, porque, como está na Lei e é um direito de todos e dever do Estado, quando não há uma necessidade atendida, as pessoas vão para a Justiça e não é nada irregular, nada ilegal”.
O professor, que atua também com a atenção primária, atualmente faz parte da equipe de coordenação do ICEPi, é servidor da Secretaria Estadual de Saúde e atua como chefe na unidade de telessaúde no Hospital das Clínicas Cássio Antônio de Moraes, chamada unidade de eSaúde.
Palestras e oficinas
A palestra do professor Marcello Bernardina foi realizada na tarde desta quinta-feira (13), no auditório do Ceunes, onde também palestraram, pela manhã, os professores Antônio Rodrigues Ferreira Júnior, da Universidade Estadual do Ceará, e Silvia das Dores Rissino, docente do Ceunes. À tarde, ocorreu ainda palestra com o diretor-geral do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi), Fabiano Ribeiro dos Santos.
O Seminário continua nesta sexta-feira (14), de forma online, com diversas oficinas. Pela manhã, os estudantes terão a oportunidade de conhecer a forma correta de preenchimento do Currículo Lattes com a doutoranda em Saúde Coletiva, Greyce Pollyne Santos Silva Minarini. À tarde, serão ministradas oficinas sobre organização e escrita de projeto de pesquisa, com o professor doutor José Geraldo Mill, e sobre como escrever artigos científicos, com o professor doutor Rodrigo Ribeiro Rodrigues.
“Cada estudante que entra é uma conquista”, afirma diretor do Ceunes sobre formação em Saúde Coletiva
Ao avaliar de forma positiva a realização do Seminário Saúde Coletiva no SUS: desafios, avanços e perspectivas, o diretor do Ceunes, professor Luiz Antonio Favero Filho, reforça a importância de oferecer formação de qualidade para estudantes, principalmente de São Mateus, do entorno e de estados vizinhos.
“Todo evento que a gente faz aqui, que envolvem os cursos de graduação e pós-graduação, é de passagem de conhecimento, de renovação e de celebração do que a gente está conquistando. Cada estudante que entra, para a gente, é uma conquista. Ter essa trajetória aqui dentro, de estudantes que são, no caso específico de São Mateus, da região, são pessoas que estarão inseridas no serviço público, no Sistema Único de Saúde. O mestrado em Saúde Coletiva é algo que tem sido construído há um bom tempo, não surgiu do dia para noite. É fruto de esforço coletivo, das professoras e professores vinculados ao Departamento de Ciências da Saúde” – enfatiza.
Segundo ele, eventos como o seminário que acontece nesta semana visam aprimorar aquilo que o Ceunes tem de muito valioso. “Algo que, inclusive, é exemplo a muitos outros países, que é o Sistema Único de Saúde, que, mesmo com todos os contratempos, com a falta de orçamento e tudo mais, é tão importante para nossa população. Então, o curso associa aquilo que acontece de fato na realidade e no dia a dia. Outra coisa muito valiosa é a troca de saberes” – complementa.
Foto do destaque: Divulgação
