CARLOS PETROCILO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após ter sido ele próprio infectado pela Covid-19, o médico Douglas Sterzza Dias, 28, cirurgião vascular residente na Unifesp, teve de deixar a quarentena para cuidar do sepultamento da sua mãe no último dia 27, na cidade de São Paulo. Rita Sterzza morreu, aos 55 anos, quatro dias depois de a sua mãe, a “nonna” Iracema, 85, também ter sido vitimada pelo novo coronavírus.

Foto: Arquivo de família

A família Sterzza tem outros quatro integrantes possivelmente infectados pelo Sars-CoV-2 –dois filhos de Iracema e suas respectivas companheiras apresentam sintomas. Um tio do médico está há nove dias na UTI do hospital São Paulo, enquanto os demais cumprem isolamento em casa.
“Minha irmã, ainda, tenta lidar melhor com o luto, mas encaminhamos para terapias. O meu pai é muito reservado, aparentemente está compreendendo”, disse o cirugião.
As duas tinham diabetes, hipertensão e obesidade –84% dos mortos no país até o último dia 29 tinham doenças preexistentes.
Acostumado a dizer que a rotina médica o ensinou a lidar de forma mais tranquila com a morte, Dias não conteve a emoção ao conversar com a reportagem.
Festeiro, o médico era quem organizava, na faculdade de medicina da Unifesp, a confraternização entre os amigos. Uma herança, aliás, de Rita.
“Minha mãe foi muito extrovertida, e a minha avó ajudou muita gente. Mesmo com dificuldades minha avó ajudou meu tio a se formar em medicina, uma vitória indescritível, e as duas tinham muito orgulho do meu trabalho”, diz Dias.
Nos finais de semana e em datas comemorativas, a família Sterzza, de origem italiana e sediada na zona norte de São Paulo, tinha o costume de se reunir em torno da mesa farta de comida e bebida. Na sexta-feira, eles não puderam se abraçar diante dos caixões lacrados de Iracema e Rita.
Para preservar o pai do contágio, de 63 anos e diabético, e a irmã, de 19 anos, Dias foi sozinho ao necrotério do hospital São Paulo e assinou os papéis para o enterro de Rita.
“Os funcionários tinham pressa, pareciam com medo de infecção”, afirmou Dias.
O ápice da dor, segundo ele, veio de saber que o corpo mãe foi transferido do carro da funerária para uma cova. “Como eu já tive a doença, fui o único da família a ver minha mãe no caixão lacrado, sem ninguém por perto para abraçar.”
Dias, liberado da quarentena, retomou a rotina no hospital nesta quinta-feira (2), até para ocupar a mente, e recebeu o abraço de colegas de profissão, além de centenas de mensagens pelas redes sociais.
A missão do médico, agora, é tentar alavancar uma vaquinha virtual para arrecadar R$ 800 mil e comprar equipamentos e materiais para o hospital São Paulo atender os pacientes infectados pela Covid-19.
Dias não esquece de um detalhe. No momento em que seguia para o cemitério Parque dos Pinheiros, na Vila Nova Galvão (zona norte), observou pessoas fazendo caminhadas e correndo pelas ruas. “Infelizmente, chegamos ao ponto em que a tragédia é uma peça educativa. Para minha família, não é só uma gripezinha.”
O Brasil conta ao menos 299 mortos pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados nesta quinta-feira. Em todo o país, já são 7.910 casos da doença que infectou mais de 1 milhão de pessoas no mundo e deixou ao menos 50 mil mortos.

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