ALEX SABINO
DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) – Bruno Henrique passou escoltado por assessores de imprensa e seguranças do Mundial de Clubes da Fifa, nesta terça-feira (17), após a vitória do Flamengo por 3 a 1 sobre o Al-Hilal, da Arábia Saudita. Acelerava o passo para receber o troféu de melhor em campo.

Foto: Reprodução.

A cena não era inédita. Neste ano, o atacante também foi eleito o principal nome das conquistas rubro-negras do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores. Também tornou-se o grande motivo pelo qual o time voltou à final do Mundial, disputado na cidade de Doha, no Qatar.
O adversário na decisão de sábado (21), às 14h30, será Liverpool (ING) ou Monterrey (MEX). As equipes se enfrentam nesta quarta-feira (18), no mesmo Khalifa International Stadium que viu a classificação brasileira.
Bruno Henrique desempatou a partida com o segundo gol flamenguista e ainda foi o responsável pelos principais lances ofensivos do time, às vezes trocando de posição com Gabriel e atuando como centroavante. Deu passe para o empate e só não anotou o terceiro porque o zagueiro Al-Bulayhi empurrou a bola para dentro.
“Eu mudei de posição com o Bruno porque ele é forte na bola aérea. Faz a diferença”, disse Gabriel.
Em grande parte por causa de Bruno Henrique, os cerca de 10 mil torcedores brasileiros que estavam no estádio terminaram a partida cantando que a “hora do Liverpool vai chegar”.
“A torcida fez o esforço para estar ao nosso lado no Qatar. O que a gente pode fazer é dar essa alegria a eles”, afirmou o melhor em campo.
Estar na final do Mundial é também uma recompensa para o jogador, que fez de tudo para deixar o Santos no final do ano passado por causa da proposta do Flamengo.
Pelo time da Gávea, em 2019, já conquistou três títulos (começou a temporada ganhando o estadual). O Mundial seria a cereja do bolo para quem no começo de 2018 chegou a ouvir comentários de que não voltaria mais a atuar em alto nível. Ele havia sofrido lesões no olho após receber uma bolada em partida do Campeonato Paulista.
Mas houve um momento da semifinal em que foi difícil pensar que o meia-atacante seria o melhor em campo. Nem ele, nem ninguém do Flamengo. O Al-Hilal dominou os primeiros 45 minutos e foi para o intervalo vencendo por 1 a 0, gol marcado por Al-Dawsari. O lado esquerdo da defesa brasileira era uma avenida, e os árabes poderiam ter anotado mais vezes.
“Mais agressividade”, pediu Jorge Jesus aos seus comandados no vestiário, segundo relatos dos laterais Rafinha e Filipe Luís.
Foi o que aconteceu. Tal qual na final da Libertadores diante do River Plate (quando o Flamengo também foi dominado e virou na etapa final), houve a aposta de que o Al-Hilal não conseguiria sustentar o mesmo sistema de marcação e contra-ataque por 90 minutos. “Percebemos que eles estavam cansando”, disse Gabriel.
Era tudo o que Bruno Henrique precisava. Ele passou a ganhar todas as jogadas, fosse pelo alto, em velocidade ou partindo com a bola para cima da marcação.
Foi dele o passe para o gol de Arrascaeta, jogada que acalmou toda a equipe brasileira e sua torcida por ter acontecido logo aos três minutos do segundo tempo. O meia-atacante poderia até ter tentado finalizar, mas teve a presença de espírito para perceber que, se rolasse para o uruguaio, o gol estaria aberto.
Não foi apenas o instante que animou os jogadores em campo. Mudou também o espírito da torcida, que havia ficado calada em alguns momentos do primeiro tempo. Tão quieta que permitiu ouvir os cerca de 300 fãs do Al-Hilal presentes no estádio.
A virada virou questão de minutos, porque o adversário não conseguia mais atacar. Veio aos 32, com Bruno Henrique de cabeça (como lembrou Gabriel para justificar a troca de posições) e foi completada aos 38, com o gol contra.
Nenhum flamenguista percebeu ou estava preocupado com isso após a classificação, mas o Flamengo quebrou uma escrita. Jamais no Mundial de Clubes um sul-americano saiu atrás no placar na semifinal e conseguiu a vaga na decisão.
Internacional (2010), Atlético-MG (2013), Atlético Nacional-COL (2016) e River Plate-ARG (2018) ficaram pelo caminho na busca de um título que, para eles, seria o maior de todos. Todos levaram o primeiro gol e não reagiram.
O clube rubro-negro evitou também que a ausência de um representante da Conmebol na final se tornasse rotina. Se o Al-Hilal avançasse, seria o segundo ano consecutivo que uma equipe da Ásia estaria na final. Em 2018, o Al-Ain, dos Emirados Árabes, tirou o River Plate (ARG) para decidir o título e ser derrotado pelo Real Madrid (ESP).
Para usar uma expressão utilizada pelo substituto Diego, que entrou com o placar empatado e ajudou a mudar a partida, quando pressionado, o Flamengo mostra estar “em um patamar superior”. O consenso entre os jogadores era que a semifinal deste torneio era a armadilha em que o sul-americano sempre entra pressionado, muito mais que o europeu.
“A equipe que a gente enfrenta nunca tem nada a perder. E o time do Al-Hilal é muito bom”, declarou Filipe Luís.
Ninguém fala em nervosismo, mas o Flamengo está a 90 minutos de uma façanha que não acontece no Brasil desde 1962: o mesmo time vencer estadual, Brasileiro, Libertadores e Mundial.
Para alguns jogadores da equipe carioca, o discurso oficial foi tentar tirar o peso dos ombros e empurrá-lo para o Liverpool, embora digam que não escolhem adversário. Não é uma tática nova no futebol chamar o rival de favorito.
Isso passa por Jorge Jesus. O treinador português admite que sábado será a noite (no Qatar) mais importante da sua carreira, com potencial para viver sua partida mais memorável no futebol. E ele transmitiu a mensagem para o elenco.
Tudo isso será possível por causa de todo o grupo de jogadores (“o melhor com o qual já trabalhei”, disse o treinador), mas especialmente devido à presença de Bruno Henrique. O atacante terá a chance de, com a vitória sobre Liverpool ou Monterrey, ser eleito mais uma vez o melhor.

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