“Reagi porque vi uma criança sendo roubada. Amanhã pode ser uma filha minha. Tenho sangue nas veias”. A reflexão é do artista de rua uruguaio Caston Alejandro, que foi brutalmente agredido no dia 17 de dezembro, no principal cruzamento da Cidade. À Rede TC, Caston disse que as agressões ocorreram depois de ele ajudar uma adolescente que estava sendo assaltada. Ele relata que os criminosos conseguiram fugir, mas voltaram ao local onde ele atua, na esquina das avenidas Jones dos Santos Neves e José Tozze, e o agrediram com pedaços de madeira.

Foto: TC Digital

Ele foi socorrido e levado ao Hospital Roberto Silvares, onde ficou internado até o dia 22. “Diria aos meus agressores que pensem no que estão fazendo. Eles não podem ser presos porque são menores de idade. Não podem pagar pelo que fizeram. Quero que entendam que não é para roubar ninguém. Se você é novo, tem que sair atrás de trabalho, e não de roubo. Quem procura o roubo acha a morte. O cara pode perder a vida por um celular e me parece que a vida não tem preço” – comenta o artista de rua.

Assim que deixou o hospital, no domingo, Caston Alejandro começou a receber a solidariedade de pessoas que o conhecem. Ele ganhou cestas básicas, roupas e até dinheiro. Conforme disse, todo o dinheiro que ganha nos semáforos em São Mateus é para pagar a hospedagem numa pensão, a alimentação e comprar roupas.

Caston continua a receber solidariedade das pessoas. Foto: TC Digital

Na manhã desta terça-feira (24), véspera de Natal, Caston estava trabalhando normalmente. Nem tanto assim, porque, como continua a receber a solidariedade das pessoas que o conhece, no momento da entrevista, por exemplo, foi interrompido algumas vezes por pessoas oferecendo a ele almoço e alguns trocados.

“Faz 14 anos que saí da minha casa para trabalhar. Faz 10 anos que vivo dos malabares. Amo o que faço, não troco o meu serviço por nenhum outro no mundo, nem por qualquer dinheiro. Porque acho que a pessoa tem que trabalhar no que gosta, independente do que ganha. Tem que haver felicidade na vida e acho que hoje existem muitas pessoas que não têm felicidade na vida” – afirma.

Ele afirma que ainda não contou aos familiares, que moram no Uruguai, o que aconteceu. Caston lembra que a mãe tem 81 anos e o irmão, “já está um pouco velho”. O pai morreu em 1998. “Já faz uma semana que não falo com eles para não deixar preocupados. Se eu contar, eles vão ficar desesperados”.

ESPÍRITO NATALINO

Foto: TC Digital

O uruguaio Caston Alejandro diz ter percebido que o espírito natalino está presente em toda a Cidade e o que ele quer neste Natal é paz. “A única coisa que eu peço é paz no mundo para todos nós. Que Deus nos dê saúde, força e trabalho. Acreditar um nos outros, acreditar em Deus. O que aconteceu a mim, eu agradeço a toda a Cidade, a quem me apoiou, me deram cestas básicas, roupas, biscoitos, remédios, juntaram um dinheiro, agradeço de montão. Eu nunca pensei que pudesse ser tão querido na Cidade. Eu me sinto mateense”.

Ele afirma ainda que o espírito natalino se manifesta nas pessoas quando vê as ruas cheias de gente comprando, com sorrisos nos rostos. “Mas acho que este espírito natalino deveria ser o ano todo, não ser somente na época de Natal. Porque isso dá energia para o ser humano. Se você sorrir, na vida tudo será mais fácil. É o que eu acho!”

No entanto, Caston não acredita que, no caso específico dele, por exemplo, as pessoas o ajudaram porque é época de Natal. “Acho que, se fosse em outra época do ano, as pessoas fariam o mesmo, porque muitas pessoas me conhecem. Já faz dois anos que moro aqui, nunca, jamais tive problema com ninguém, não tenho passagem pela polícia, não falto o respeito com ninguém, trabalho de domingo a domingo, faça Sol ou faça chuva” – destacou.

Ao final da entrevista, o uruguaio mandou um recado: “Feliz Natal para todo mundo, próspero Ano-Novo, energia positiva, paz, amor e felicidade. É só isso que peço”.

Foto: TC Digital

“Acredito muito em Deus e, por isso, na vida”

Morando há dois anos em São Mateus, o artista uruguaio Caston Alejandro lembra que veio para o Brasil há 10 anos. Dizendo-se “muito feliz” com o trabalho, afirma que já fez várias apresentações em eventos evangélicos e católicos, além de escolas, públicas e particulares, e sem cobrar nada. “Nunca cobro porque o trabalho que faço é de coração, independente se ganho dinheiro, ou não. Acredito muito em Deus e, por isso, na vida” – frisa.

Caston diz que não quer ficar rico, apenas sobreviver. “O dinheiro que ganho é para pagar o meu aluguel, andar todos os dias limpo, comprar as minhas roupas, os meus brinquedos, não me falta a minha comida. Não pretendo comprar um carro, uma casa, uma moto, não pretendo ficar rico, levar dinheiro para o Uruguai. O que pretendo é viver o dia-a-dia”.

Uruguaio mostrará arte com malabares no camarim de Léo Santana

Foto: TC Digital

Algumas semanas antes das agressões, o uruguaio Caston Alejandro assinou contrato com a empresa Wagner Dutra Produções e irá se apresentar, junto com outros artistas de rua, no setor backstage, durante o Festival de Verão Guriri, no La Rustic. Conforme o produtor Max Correia da Silva, as apresentações serão nos shows de Léo Santana (28), Wesley Safadão e Kevinho (4 de janeiro) e Gustavo Lima (11 de janeiro), além do Réveillon.

“Graças a Deus não perdi a vida, porque perdi muito sangue. Tenho 14 pontos na cabeça, inclusive não poderia estar trabalhando no Sol, mas tenho que trabalhar. Todos temos contas para pagar, não é verdade? E é isso que temos que ser na vida, um guerreiro. Não podemos baixar a guarda porque a vida é uma luta. Tenho quatro shows para trabalhar e estou me recuperando porque tenho que cumprir um contrato. Estou acreditando em Deus que tudo vai dar certo” – disse Caston.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here