sábado, novembro 8, 2025
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Daniel Comboni

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PADRE ERNESTO ASCIONE*

 

  Até o século XIX, a África viu seus filhos tratados como escravos e vendidos nas Américas. Infâmia vencida, aos poucos, pelas campanhas abolicionistas. O Brasil foi o último país a aboli-la, em 1888. Apesar de ter uma extensão territorial de 30 milhões de km², uma população de cerca 1,5 bilhão de habitantes e possuir incontáveis riquezas naturais, a África é o continente mais pobre da Terra. A Conferência de Berlim (1884) repartiu-o entre as potências europeias como se elas fossem as donas de seu território. A independência de suas 54 nações veio somente entre 1960-1975.

As missões na África conservam algo de épico. Iniciadas em 1842, com o apoio da Congregação da Propagação da Fé e das Missões Africanas de Lyon (França), o clima tórrido, as distâncias enormes, o vestuário e uma alimentação inadequada transformaram as expedições missionárias em autênticos desastres: febre-amarela, malária, falta de remédios e médicos fizeram muitas vítimas. Figuras excepcionais de missionários marcaram profundamente a história de sua evangelização: Libermann, fundador dos Espiritanos; Lavigeri, dos Padres Brancos; Nicolau Mazza, Knoblecher, Ludovico da Casória, Massaia e Giustino de Iacobis.

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Daniel Comboni (1831-1881), o maior missionário do século XIX, o “Francisco Xavier da África”, “dom de Deus à Igreja missionária”, “fez-se negro com os negros”. Dele, o grito: “Ou Nigrícia, ou Morte!”. Seu método de evangelização “Salvar a África pela África” inaugurou uma era missionária. Inspiração que recebeu enquanto estava orando junto ao túmulo de São Pedro, em Roma. Diferente de outros grandes protagonistas da missão, seu método destacou-se por realismo, senso universalista, confiança nos indígenas e valorização do carisma feminino. Em 1º de janeiro de 1867, fundou o seu “Instituto” e, em 1º de janeiro de 1872, das “Pias Mães da Nigrícia”, para a evangelização da África.  Lutou com muito ardor contra a escravidão, que vinha das nações vizinhas, escravagistas. Apresentou, no Concílio Vaticano Iº (1870), o “Plano para a regeneração da África”, que, porém, não teve séquito, pois o Concílio terminou, antes do tempo, pelos conflitos políticos na Itália.

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Em 1872, Papa Pio IX o nomeou “Vigário Apostólico da África Central”; e, em 1877, o elevou a “bispo” daquele imenso território. Na sua posse, na catedral de Khartum (Sudão), pronunciou um discurso memorável: “Volto ao vosso meio para nunca mais vos deixar. Estarei sempre ao vosso lado, ao vosso inteiro dispor: o dia mais feliz de minha vida será aquele em que puder dar minha vida por vós”. Aos seus mais estreitos colaboradores, no seu leito de morte, disse: “Tenham coragem. Não desistam. Nunca desanimem. Vão em frente! Eu morro, mas a minha obra não morrerá: Deus quer a missão africana, a conversão dos negros; eu morro com esta certeza!”. Era o dia 10 de outubro de 1881, em Khartum (Sudão). Canonizado em 3 de outubro de 2003, por João Paulo II, na Praça de São Pedro, em Roma, hoje Daniel Comboni é modelo de evangelizador. Acreditou na África e, sobretudo, nos africanos; os libertou de um fatalismo secular e de uma resignada sujeição, fazendo-os protagonistas de sua história.

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(*Padre Ernesto Ascione é missionário comboniano.)

 

Foto do destaque: TC Digital Arquivo

 

 

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