A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) consideram injustificado o aumento de um ponto percentual (p.p.) na Selic, levando-a para 13,25% ao ano (a.a.). “É mais um movimento da política monetária que ocorre em consequência da longa cultura de juros reais elevados que persiste no Brasil”, aponta a assessoria de comunicação da Findes.
“Com a decisão, o Banco Central mostra que persiste em uma única ferramenta de política monetária –a elevação dos juros–, no enfrentamento de expectativas de inflação. Não considera, no entanto, os efeitos impactantes dos juros e a taxa de câmbio na própria inflação. O comprometimento com o equilíbrio fiscal e com a racionalidade dos gastos públicos precisam ser exercidos e cobrados por todos” – destaca.
De acordo com o presidente da CNI, Ricardo Alban, a alta da Selic é injustificada. “Com a decisão, o Banco Central mostra que continua ponderando equivocadamente os fatos econômicos mais relevantes do cenário atual, principalmente no que diz respeito ao quadro fiscal e à desaceleração da atividade do País”, diz Alban.
Por isso, os setores econômicos defendem um pacto nacional, que envolva todos os poderes, empresários e trabalhadores, pela criação de um consenso em torno de metas fiscais e de políticas econômicas estruturantes, garantindo estímulos seletivos que assegurem a continuidade dos investimentos, enquanto se busca o equilíbrio das contas públicas e o combate à inflação.
“A busca pela disciplina fiscal deve vir acompanhada de medidas de incentivo à inovação, à infraestrutura, à educação e à tecnologia, garantindo uma elevação do PIB no médio e longo prazo, gradual e sustentada” – indica a Findes.
Juros real chegam a 7,8%
Com o aumento, a taxa de juros real do Brasil chega em 7,8% ao ano. Isso é 2,8 p.p. acima da taxa de juros neutra, de 5% a.a., estimada pelo Banco Central, indicando que a política monetária está sendo restritiva. Vale lembrar que a política monetária do Brasil está em campo contracionista desde fevereiro de 2022.
A decisão não leva em conta os efeitos da aprovação do pacote fiscal, que ainda deve ser ampliado este ano, segundo declarações do governo federal, e a forte desaceleração do impulso fiscal, observada desde o segundo semestre de 2024 e que seguirá em 2025. Afinal, as despesas federais devem apresentar um crescimento real de 2,3% este ano, em comparação com um crescimento próximo a 4% em 2024, de acordo com as projeções da CNI.
O fato é que a meta de resultado primário será cumprida em 2024 –considerando sua banda inferior– e, de acordo com as estimativas da CNI, também deve ser cumprida em 2025, pois depende de um contingenciamento de R$ 4,2 bilhões, levando-se em conta o limite inferior da meta.
“É importante destacar que a decisão do Banco Central não considera, com o peso correto, a desaceleração da atividade econômica, observada já no PIB do terceiro trimestre de 2024, e mantida nos dados parciais do último trimestre, até novembro” – observa a Findes.
De acordo com a Federação, em novembro de 2024, a produção industrial caiu 0,6% em relação ao mês anterior, sendo o segundo mês consecutivo de queda. “Ainda, a queda no volume vendido no varejo foi de 1,8% em novembro de 2024, revertendo o crescimento que havia sido registrado em outubro. Já nos serviços, houve recuo de 0,9% em novembro, praticamente anulando a alta que tinha sido obtida em outubro” – explica.
“Diante disso, fica evidente que o aumento representa mais custos financeiros para as empresas e os consumidores, e perda adicional e desnecessária de emprego e renda” – complementa a Findes.
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