DHIEGO MAIA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Ninguém fixa o olhar em ninguém em São Paulo. As pessoas andam de cabeça baixa na rua. Parecem estar sempre blindadas umas às outras.”
Essa miopia social inquieta a fotógrafa Raquel Brust desde que ela precisou deixar Porto Alegre, em 2006, para viver na metrópole.

Foto: Reprodução

Brust vê na arquitetura da capital paulista, que ela considera equivocada, um muro que impede o estabelecimento de relações mais humanizadas. Tudo porque, diz ela, o espaço urbano “não foi pensado para as pessoas”.
Desse limão amargo a fotógrafa vem fazendo uma boa limonada, forçando encontros e driblando a correria em espaços onde as pessoas, antes, apenas passavam.
Foi misturando cliques entre anônimos e figuras representativas em suas respectivas áreas, com seus rostos ampliados ao limite, que Brust volta às ruas de São Paulo com a 10ª edição de seu projeto “Giganto”.
Mais uma vez, o elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, no centro da capital paulista, foi o ponto escolhido para a exposição.
As pilastras que sustentam o elevado na rua Amaral Gurgel, na Vila Buarque, servem de suporte para 29 megapainéis que ficarão dispostos nos dois lados das colunas. A instalação, que começou na terça-feira (3), será concluída nesta semana.
E não adianta virar o rosto, brinca Brust. “Os painéis têm 6 m de altura por 3 m de largura. É impossível não vê-los, e é essa a intenção do projeto”, diz.
Em 2013, a fotógrafa usou as mesmas pilastras do Minhocão, onde fixou 20 retratos de moradores do elevado, de transeuntes e de moradores de rua que buscam abrigo sob o elevado.

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Foto: Reprodução.

Neste ano, o “Giganto” volta ao Minhocão tocando num tema sensível: a diversidade. Se você passar na Amaral Gurgel terá a chance de ver uma miscelânea de rostos que vão do da drag Rita von Hunty ao de Akin Cavalcante, ator negro com marcas expressivas de vitiligo na face.
O casting ainda tem Bruna Marsanovic, atleta cadeirante de rúgbi; Davi Fernandes Martim, líder indígena da aldeia de Jaraguá; Preta Ferreira, líder do MTSC (movimento pró-moradia); e Wallie Ruy, atriz e mulher trans, entre outros.
“Eu escolhi a dedo cada uma dessas pessoas. Juntas, elas formam uma unidade, uma tentativa pela busca da empatia nesses tempos tão difíceis”, conta a idealizadora.
Brust não sabe quanto tempo a instalação ficará à mostra. “Será que eles [painéis] serão destruídos, pichados, rasgados? Não sabemos. A manutenção deles dependerá dessa troca com as pessoas que habitam e trafegam por aquela estrutura”.
O projeto marca o início da nova etapa do projeto MAR (Museu de Arte de Rua), da Secretaria Municipal de Cultura, que prevê uma série de intervenções artísticas em todas as regiões da cidade.

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Projeto Giganto – Diversidade
Onde pilastras do Minhocão (r. Amaral Gurgel)
O que é exposição ao ar livre de fotografias ampliadas de 29 personalidades, entre elas artistas, líderes indígenas e de movimentos pró-moradia
Quando desde terça (3)

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