LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Susie Wolff, 37, ex-pilota de testes da Williams na F-1 e chefe da Venturi -equipe pela qual corre Felipe Massa na F-E- tem tentado mudar a realidade feminina no automobilismo, inspirando jovens garotas a buscar um lugar dentro e fora das pistas.
Atualmente, não há nenhuma mulher no grid das principais categorias do automobilismo mundial organizadas pela FIA, entidade que regulamenta o esporte a motor.
“Estamos tentando não apenas incentivar os talentos, mas criar modelos que possam inspirar a próxima geração a entrar no esporte”, diz Wolff à reportagem.

Foto: Reprodução

Em novembro de 2019, como embaixadora do programa Girls on Track (Garotas na pista), da FIA, a escocesa promoveu junto com a F-E na Arábia Saudita um evento que contou com a presença de cerca de 300 meninas, com idades de 8 a 18 anos.
As garotas participaram de atividades educativas ligadas ao esporte a motor. “Para várias delas, foi a primeira vez em um autódromo, a primeira vez sentando em um carro”, conta. “Meu papel é inspirá-las sobre as possibilidades [no automobilismo].”
O evento na Arábia Saudita também foi simbólico. Em junho de 2018, o país revogou a lei que proibia as mulheres de dirigir. A liberação deu fim a uma reivindicação de mais de 30 anos na monarquia saudita. Até então, se uma mulher desafiasse a proibição, poderia ser condenada à prisão, multas e chibatadas.
Enquanto a lei ainda estava em vigor, Susie Wolff conheceu Reema Juffali, em 2017, quando ela tinha 25 anos e sonhava em ingressar no automobilismo. Depois dos conselhos da escocesa, a jovem saudita deixou o emprego que tinha e passou a se dedicar às corridas.
“Disse a ela que se estava falando sério sobre ser pilota, teria de estudar, ir à escola e entrar no esporte”, lembra Wolff. Em 2018, Juffali participou da Copa TDR 86, no circuito de Yas Marina (Abu Dhabi), e se tornou a primeira mulher saudita a competir em um campeonato internacional de automobilismo.
O feito deixou a escocesa orgulhosa. “O que ela conseguiu sendo saudita é muito inspirador para garotas da região e fico muito feliz com a ascensão dela no esporte a motor.”
Chegar às pistas, no entanto, não é o único desafio para as mulheres. Conviver em ambientes dominados por homens também as expõe reiteradamente ao machismo. Wolff, por exemplo, disse que já sofreu com sexismo na F-1.
“Estarei mentindo se dissesse não, mas nunca deixei que me impedisse ou me distraísse do meu objetivo”, conta, preferindo não relatar as situações de constrangimento.
Ela deixou a categoria em 2015. Naquele ano, era pilota de testes da Williams e viu frustrada sua expectativa de disputar uma corrida oficial mesmo quando uma oportunidade se abriu.
Titular da escuderia inglesa na época, o finlandês Valtteri Bottas não participou da primeira corrida da temporada em razão de uma lesão nas costas. Ele chegou a disputar o treino classificatório, mas foi considerado inapto pela FIA para atuar no GP.
Havia a possibilidade de Bottas ficar fora da prova seguinte, na Malásia, mas Wolff não teve a sua vez. A Williams anunciou o alemão Adrian Sutil como reserva oficial do finlandês e de Felipe Massa para o restante da temporada.
No fim daquele ano, ela resolveu deixar a equipe e se aposentar das pistas. “Minha decisão de deixar a F-1 sem ter a chance de competir foi fácil, porque sabia que não teria chance. Foi uma decepção, posso olhar para trás e dizer que fiz de tudo, mas a oportunidade simplesmente não estava lá.”

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