LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao tornar-se ídolo do Corinthians com as conquistas da Taça Libertadores e do Mundial, ambas em 2012, Cássio, 32, passou a aproveitar os benefícios da fama, como ele mesmo afirma, com exageros.
“Teve situações em 2014 e 2015 em que eu acordava e minha casa estava cheia de gente que eu nem conhecia. Eram situações de eu acordar à noite, ter feito festa em casa e não saber quem estava lá.”
A revelação faz parte das histórias narradas no livro “Cássio – A trajetória do maior goleiro da história do Corinthians”, escrito pelo jornalista Celso Unzelte, com 176 páginas, previsto para ser lançado nesta quarta-feira (12).

Foto: Reprodução.

Publicada pela editora Universo dos Livros, a obra se propõe a justificar o seu título. Historiador do clube, Unzelte cita que 113 goleiros atuaram em ao menos um jogo pelo time, fundado em 1910, e que sua régua para medir Cássio se baseia em feitos e conquistas, e não necessariamente na qualidade técnica.
“Alguns podem achar que o Gylmar foi melhor. O próprio Dida pode ter sido equivalente tecnicamente. Então, eu fui mais pela importância que ele [Cássio] tem para o clube. Ele viveu um momento de grandes conquistas, com participações decisivas. Então, aí, é indiscutível. Maior no sentido de mais marcante”, explica o autor.
Na trajetória de Cássio pelo Corinthians, o ano mais marcante foi 2012, sobretudo pela histórica defesa no chute de Diego Souza, nas quartas de final da Libertadores contra o Vasco, e pela atuação na decisão do Mundial de Clubes, diante do Chelsea.
Sobre o lance diante do vascaíno, o arqueiro ainda reflete. “Fico pensando: como não tinha ninguém mais atrás para me ajudar?. O Tite sempre foi muito chato na questão da organização do time, de não deixar ninguém no mano a mano com o adversário.”
Esses foram os primeiros dos nove títulos que fizeram dele o jogador que mais vezes foi campeão com a camisa corintiana. Em oito temporadas, ele ganhou duas vezes o Campeonato Brasileiro (2015 e 2017), quatro vezes o Paulista (2013, 2017, 2018 e 2019), uma vez a Recopa (2013), além dos já citados títulos da Libertadores e do Mundial.
Segundo o livro de Unzelte, depois de conhecer a fama, Cássio passou a se relacionar com um grupo que frequentava sua casa, principalmente durante as festas que ele organizava e bancava.
Foram nestas ocasiões que ele acabou exagerando, como admite no livro.
“É uma questão de, de repente, achar que pode fazer tudo. Aí tu vai no jogo, jogo bem e fica na cabeça: ‘Ah, eu fiz festa, eu estou jogando bem, então as coisas estão funcionando'”, conta.
Cássio diz que nunca deixou de treinar por isso, mesmo chegando cansado a alguns treinos. Em 2016, ele viveu sua pior temporada no Corinthians. Em maio daquele ano, na semana em que a avó dele, dona Maria Luiza, morreu em Veranópolis (RS), o arqueiro perdeu a posição de titular para Walter por opção do técnico Tite.
“Minha avó foi uma pessoa muito importante para mim, se não a mais importante”, diz.
Triste pela perda familiar, ele teve que lidar também com a frustração por ir para a reserva. Conta que fez questão de mandar uma mensagem de áudio pelo celular para Walter. “Meu problema não é contigo, não. Meu problema é com o Tite. Não concordo com a situação, mas o que tu precisar de suporte, eu vou te ajudar. Vou te respeitar porque é teu momento”, afirmou ao colega.
Cássio terminou aquele ano na reserva e, ao fim da temporada, cogitou deixar o Corinthians. A diretoria do clube, com ajuda de Andrés Sanchez, na época sem cargo oficial, mas com grande influência na gestão, o fez mudar de ideia.
Andrés procurou o goleiro no CT do Parque Ecológico e teve uma conversa direta com ele. “Preciso de você aqui. No ano que vem, se tu quiser ir embora, eu te libero. Mas agora eu preciso”, disse o dirigente.
“Aí eu pipoquei, né?”, contou Cássio.
O jogador, porém, se revoltou com a situação e passou a buscar culpados. Na obra, ele conta que ficou magoado com Mauri Lima, ex-preparador de goleiros do Corinthians, e com Tite. Ele só passou a reconhecer a sua responsabilidade na situação quando foi alertado por Janara Sackl, sua atual mulher.
Foi ela quem recolocou o ídolo nos trilhos. Os dois se conheceram pelas redes sociais. “O que você quer da sua vida?”, ela costumava questionar a Cássio.
Incentivado pelo casal Fabiola e Vilson, ex-zagueiro corintiano, o goleiro passou a frequentar a igreja Voz da Verdade junto com Janara.
Ele também dedicou as férias de 2016 para treinar e se preparar para recuperar sua posição no ano seguinte. “Fiz uma coisa que nunca tinha feito, treinei nas férias.”
Em 14 capítulos, o livro resgata as origens do goleiro, nascido em Veranópolis, e conta como a personalidade dele foi moldada em sua passagem pela Europa. Jogou pouco no PSV, da Holanda. A passagem serviu para ele se sentir mais livre, o que influenciou na escolha do corte de cabelo que virou marca do corintiano.
“No Grêmio [onde ele iniciou a carreira profissional], o Chiquinho, meu preparador de goleiros, sempre foi bem generalzão e dizia ‘corta esse cabelo’. Na Holanda, comecei a colocar faixa na cabeça e vi que ninguém falava nada porque lá é um lugar mais liberal.”
A obra relembra, ainda, a luta dele contra as lesões em 2013 e fala sobre a relação de Cássio com Tite, treinador que comandou o goleiro nas principais conquistas pelo Corinthians e, atualmente, está à frente da seleção brasileira.
“Sempre me questionam: ‘Como ficou entre tu e o Tite? Vocês se acertaram?’ Na verdade, nunca houve uma briga. Acho que o que houve foi uma briga de pai e filho”, afirma o arqueiro, antes de citar uma conversa com o técnico, pouco antes de ele assumir a seleção. “Professor, eu perdi minha posição por culpa minha, foi erro meu.”

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CÁSSIO – A TRAJETÓRIA DO MAIOR GOLEIRO DA HISTÓRIA DO CORINTHIANS
Autor: Celso Unzelte
Editora: Universo das Letras
Preço: R$ 39,90 (livro físico), R$ 19,90 (versão digital); 176 págs.

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