SYLVIA COLOMBO

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A cidade de Buenos Aires vive uma renovação gastronômica e nem parece ser a mesma do outono de 2020, quando medidas do governo para enfrentar a pandemia de coronavírus fecharam as portas de todos os bares, restaurantes e cafés.

Naquele ano, em pouco mais de cem dias cerca de 30% dos restaurantes faliram. Uma ajuda governamental e as vendas por delivery colaboraram para conter uma crise ainda mais intensa, mas não evitaram que espaços tradicionais encerrassem suas atividades, especialmente no centro, a região da capital que mais sofreu.

Atualmente, numa quinta-feira à noite, a espera para jantar no restaurante peruano La Mar, no bairro de Palermo, é de mais de uma hora, isso torcendo para que caiam algumas reservas. É praticamente impossível conseguir almoçar na concorrida “parrilla” Don Julio sem fazer uma reserva pelo menos três dias antes. Depois de um ano e meio fechado, o clássico Bodegón La Buena Medida, inaugurado em 1905, voltou a lotar no bairro de La Boca. O perfil de muitos restaurantes mudou, cardápios foram adaptados e novos bairros ganharam espaço na cena gastronômica.

Uma das empresárias e chefs mais conhecidas e premiadas da Argentina, Narda Lepes, 49, estava pessimista no começo da pandemia. “Eu sabia que não viria uma solução rápida, que era para guardar dinheiro e segurar as contas como fosse possível.” Conhecida pelo premiado Narda Comedor, Lepes acaba de abrir um novo restaurante, com pratos argentinos “do tempo dos nossos avós”, e é a curadora do recém-inaugurado espaço Bocha, aberto ao lado do Campo Argentino de Polo que reúne 15 restaurantes e um ambiente para shows.

“A pandemia mudou o mapa gastronômico de Buenos Aires. O centro, infelizmente, foi a zona que mais perdeu restaurantes e que não soube se renovar. Ganharam espaço novos bairros como Villa Crespo, Villa Urquiza, Colegiales, e houve uma redução dos espaços e mais especializações”, diz.

De fato, os novos restaurantes de bairro portenhos se especializam em certos pratos e produtos, como um dedicado apenas a pratos com champignon (Donnet) ou outro a refeições com homus (La Humusseria). Também surgiram novos “speakeasy”, bares inspirados nos americanos da época da lei seca, como o Victoria Brown, especializado em whisky.

“A sensação que tenho é que as pessoas se cansaram do fato de que tudo estava muito igual, os interiores, os cardápios”, diz Lepes. No menu do Lokanta, os argentinos nostálgicos das comidas de sua infância encontram abobrinha recheada, versões gourmet do bife à milanesa e dos sanduíches com pão de miga.

Para Daniel Prieto, presidente da Câmara de Cafés e Bares, a pandemia “acelerou uma mudança de geração entre donos e chefs que já vinha ocorrendo. Muitos donos de negócios mais antigos acabaram preferindo sair do circuito, e uma nova geração chegou. Quanto ao centro, é uma pena que ele tenha sido deixado de lado, pelo menos cinco restaurantes clássicos ali fecharam. Mas as ondas vão e vem, acreditamos que possa haver um revival. Por enquanto, de fato, a vida gastronômica está nos bairros.”

Dados do Indec (o IBGE argentino) indicam que a atividade gastronômica do país, em abril, se recuperou 31,9% em relação ao mesmo mês em 2021. “Ainda não é o mesmo nível de antes, mas há uma retomada, e o mesmo se espera no turismo agora na temporada de inverno”, diz Mariano Pizarro, da Câmara Argentina do Turismo.

“O turista brasileiro já está voltando em maior número ao país, apesar da má situação econômica nos dois países, a moeda brasileira aqui ainda tem uma vantagem”, afirma. O número de turistas brasileiros aumentou em 86% neste mês com relação a janeiro. As Aerolíneas Argentinas já preparam o lançamento de novas rotas com o país vizinho, como o voo direto São Paulo – Salta e Brasília – Buenos Aires (interrompido antes da pandemia).

Foto: Pixabay
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