LUCAS BRÊDA E DANIEL MARIANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nego do Borel acaba de lançar seu disco mais ambicioso. “Sempre quis gravar um DVD desse”, diz. “É muito importante, um projeto com o qual sempre sonhei, com equipe profissional, participações.”
Ele está falando de “Ao Vivo”, registro em áudio e vídeo de seu show. Com investimento alto, é tido como o trabalho mais importante da carreira de Nego do Borel, que inclui hits de dimensões internacionais como “Você Partiu Meu Coração” e “Me Solta” (parceria com Rennan da Penha, indicada a um Grammy Latino).
Mas a aposta no formato não é exclusividade dele. Os dois últimos álbuns de Ferrugem, dos nomes mais populares do pagode atual, são registros de show. A mais tocada nas rádios do país neste semestre, “Milú”, de Gusttavo Lima, é também ao vivo. Gigantes do sertanejo, como Luan Santana e Marília Mendonça, também lançaram discos ao vivo neste ano.
Os dados do Spotify reforçam essa percepção. Segundo levantamento da Folha de S.Paulo, entre 51 países analisados, o Brasil é o que mais ouve música ao vivo.
Usando o algoritmo da plataforma, quase 7% das músicas brasileiras no Top 200 são ao vivo. O segundo lugar é o México, com 1,5%, sendo que a média no resto do mundo é 0,5%.
Se, em vez do algoritmo, for feita uma busca pelo termo “ao vivo” no Top 200 do Spotify, o número sobe para 30% das faixas no Brasil.
“A versão ao vivo costuma transmitir a atmosfera do show. Durante anos, o Brasil foi um dos poucos e maiores mercados na venda de DVDs. O brasileiro, historicamente, aprecia levar o show para sua casa”, analisa Renê Lavradas Júnior, diretor artístico da Sony.
Ao longo dos anos 2000, os DVDs foram parte importante do consumo de música. A mídia ficou tão consagrada que até hoje é comum chamar de DVD qualquer registro em vídeo de show –mesmo que ele nem seja lançado no formato.
É no YouTube que os artistas divulgam os vídeos atualmente. “Com a queda e o ‘fim’ das mídias físicas, surgiram também novos players para o consumidor ter acesso a vídeos longos”, diz Lavradas Júnior.
Ele se refere a outros serviços de streaming. Luan Santana, por exemplo, lançou seu disco-filme “Viva” com exclusividade no Globoplay, plataforma sob demanda da Globo.
“Não é algo recente. Mas, com a crescente do sertanejo, isso aumentou”, diz Guilherme Ferraz, produtor e compositor de nomes como Léo Magalhães e João Neto e Frederico. “Creio que seja um jeito de o artista parecer ‘grande’, com uma megaestrutura, público de 50 mil. Isso impressiona.”
Segundo o levantamento, 24% das faixas sertanejas entre as mais tocadas do Spotify são ao vivo. O número cai para 2,5% em músicas de outros gêneros.
No sertanejo, diz Ferraz, o recurso é tão estabelecido que muitas gravações são, na verdade, feitas em estúdio. “Hoje é comum, por uma questão de praticidade”, conta. “A captação de instrumentos ao vivo requer maior cuidado, dá muito trabalho. É muito mais barato gravar no estúdio e, com as ferramentas de mixagem que temos hoje, facilmente dá para soar como ao vivo.”
Só bateria, baixo e voz costumam ser gravados em shows. Musicalmente, o diferencial do ao vivo acaba sendo a captação do ambiente, que faz a música soar mais épica e grandiosa do que em estúdio.
“A música soa maior por causa do reverb [eco] natural e outros efeitos adicionados na mixagem” diz Ferraz. “A emoção é maior quando você escuta o som do público.”
Segundo Lavradas Júnior, há ainda a vontade de explorar o amplo mercado brasileiro de shows, que é maior no sertanejo. Lançar um single ou disco ao vivo acaba funcionando como promoção do show.
“Quando lança um DVD, você vende seu show –a presença de palco, o carisma”, diz Nego do Borel. “As pessoas se empolgam, querem ver pessoalmente. Agenda bomba, música bomba.”
Mais ligado ao funk, Nego do Borel é exemplo de que o ao vivo não é exclusividade do sertanejo. Para muitos artistas, o “DVD” –na verdade, disco-filme ao vivo– é sinônimo de carreira bem-sucedida. É um jeito de se vender como alguém estabelecido e respeitado, capaz de animar grandes plateias.
“Um DVD é um DVD”, diz o cantor. “Mesmo se não fizer o maior sucesso do mundo, considero como um presente de papai do céu, com tudo que já vivi e passei. É a comemoração da minha carreira, dos oito anos na rua fazendo show, do meu nome estar grande.”

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