FABIO SERAPIÃO E JOSÉ MARQUES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Uma interceptação telefônica feita pela Polícia Federal sugere que o ex-ministro Milton Ribeiro passou a suspeitar que seria alvo de busca e apreensão após uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A suspeita de interferência de Bolsonaro e de vazamento da operação Acesso Pago, que prendeu Ribeiro e pastores no caso do balcão de negócios no Ministério da Educação, embasaram a decisão do juiz Renato Borelli desta sexta (24) de enviar o caso para o Supremo Tribunal Federal.

Em conversa em 9 de junho com sua filha, Ribeiro diz que falou com Bolsonaro naquele dia e que ele teria dito estar com “pressentimento” de que iriam atingi-lo por meio da investigação contra o ex-ministro.

“Hoje o presidente me ligou, ele está com pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim. É que tenho mandando versículos para ele”, disse Ribeiro, na conversa revelada pela GloboNews e confirmada pela reportagem.

Questionado pela filha sobre se Bolsonaro queria que o ministro parasse de enviar mensagens, Ribeiro negou e citou a suspeita levantada pelo presidente. “Não, não é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste”, disse.

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O relato da conversa com Bolsonaro à filha ocorreu após a PF ter solicitado a prisão e as buscas contra Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
A conversa continua e Ribeiro aborda a possível realização de busca. “Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios né…”, afirmou o ex-ministro.
Outra conversa interceptada pela Polícia Federal reforça a suspeita sobre Ribeiro ter conhecimento da possível busca e apreensão.

Em uma conversa no dia da operação, entre sua esposa, Myrian Ribeiro e um interlocutor de nome Edu, eles abordam a situação do ex-ministro.
Segundo a esposa, Ribeiro “não queria acreditar”, mas os “rumores do alto” apontavam que uma possível operação iria ocorrer mostra que a esposa de Ribeiro, Myrian Ribeiro,

“Ele tava, no fundo ele não queria acreditar, mas ele estava sabendo. Para ter rumores do alto é porque o negocio estava certo”, disse a esposa de Ribeiro.
Além das conversas telefônicas, outro motivo para a remessa foi a mensagem enviada a colegas pelo delegado federal responsável pelo pedido de prisão de Milton Ribeiro, de que houve “interferência na condução da investigação”.

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Bruno Calandrini diz no texto que a investigação foi “prejudicada” em razão de tratamento diferenciado dado pela polícia ao ex-ministro do governo Jair Bolsonaro. O episódio foi revelado pela Folha de S.Paulo.

“Registre-se também que há indícios de igual interferência na atividade investigatória da Polícia Federal quando do tratamento possivelmente privilegiado que recebeu o investigado Milton Ribeiro”, afirma a manifestação do Ministério Público.

A Procuradoria cita que o ex-ministro “não foi conduzido [de São Paulo] ao Distrito Federal (não havendo sido tampouco levado a qualquer unidade penitenciária) para que pudesse ser pessoalmente interrogado pela autoridade policial que preside o inquérito policial, apesar da farta estrutura disponível à Polícia Federal para a locomoção de presos”.

 

Foto do destaque: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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