Quando lemos a narrativa do Gênesis sobre a Criação do homem percebemos, no relato primordial, que Deus pega um pouco de barro e insufla seu Espírito gerando vida. O Oleiro divino sempre cria, protege e cuida a obra de suas mãos. Já a lama, a diferença do barro e da argila, mostra a falta de cuidado, o não importar-se com a vida.

O novo desastre ambiental, desta vez em Brumadinho, expressa exatamente isso: o primado da ganância e do lucro por cima da vida e das pessoas. O modelo de exploração mineral e das barragens, vigente no País, conhecido como o método de “alteamento para montante”, sendo um procedimento barato, mas inconsistente e inseguro.

Lembrando que a tragédia de Brumadinho é a oitava, embora a mais terrível pelo número de vítimas humanas e pelo volume do impacto ambiental. É de se esperar que a sociedade civil seja ouvida para repensar modelos alternativos ao extrativismo selvagem e a construção de um marco regulatório que dê mais confiabilidade e exerça um controle mais contundente, penalizando severamente a irresponsabilidade e descaso com as populações e as teias da vida.

A sustentabilidade passa por empoderar as populações atingidas, dando controle social e decisório, consolidando redes de proteção territorial. A busca insana do lucro das multinacionais e a omissão de um sistema preventivo que garanta vida e segurança para o povo e o meio ambiente, não pode ser mais tolerado.

Somos todos Brumadinho, manifestamos nossa solidariedade irrestrita e incondicional com as vítimas e nos comprometemos e apoiamos com a reconstrução de vidas, famílias, moradias e na implementação de políticas públicas que defendam a vida, a justiça ambiental, contra o extrativismo predatório e a insegurança criada pelo lucro ignóbil. Deus seja louvado!

(*Dom Roberto Francisco Ferrería Paz é bispo de Campos-RJ)

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