CLÁUDIA COLLUCCI
ANTÁRTIDA (FOLHAPRESS) – O projeto do heliponto da nova base científica brasileira na Antártida já estava pronto quando os técnicos descobriram que ali havia um grande tapete de musgo e um ninho de skua, uma ave polar que se reproduz na região.
Por conta do impacto ambiental que a remoção desse tapete poderia causar, a empresa chinesa que executou a obra para construir a nova estação foi orientada a transplantar o musgo para um outro local, sob supervisão dos fiscais do Ibama.

Foto: Reprodução

O tapete, com cerca de 650 metros quadrados, foi levado para um outro lugar próximo. A operação foi considerada o maior transplante de musgo da história, segundo o biólogo Paulo Câmara, pesquisador antártico que está escrevendo um artigo científico sobre o assunto.
Ele avalia como está a recuperação da planta. “Aparentemente o tapete está muito bem, saudável, crescendo. Agora a gente já sabe que o transplante de musgo é viável, pelo menos aqui na Antártida.”
E por que o musgo é tão importante por aqui? “Os tapetes de musgo são a Amazônia da Antártida. Não tem macaco pulando, arara voando, mas tem muitos organismos vivendo ali, é uma floresta em miniatura. Tem que olhar na lupa, no microscópio, o que tem lá.”
Entre os microrganismos que vivem ali está o tardígrado, uma criatura estranha e microscópica e se assemelha a um urso aquático. Por isso, é também conhecido como urso d’água.
“O cara vive aqui no inverno, a menos 30 graus Celsus, sobrevive a mais de 100 graus, na água fervendo, e vive no vácuo, no espaço. Se tem uma criatura do capeta é o tardígrado. Ele não morre”, diz Câmara.

Base científica brasileira na Antártida. Foto: Reprodução

E o que o animal mais resistente do mundo pode nos ensinar?
“Se a alguém pode ensinar a gente a não morrer é ele. Se tem alguma substância que o deixa à prova de bala, a gente pode aprender com ele. Se a gente remove o tapete de musgo, está removendo ele e toda essa galera que consegue sobreviver nessas condições inóspitas.”
Uma pesquisa da Universidade de Tóquio publicada em 2016 na revista científica Nature Communications demonstrou que o bichinho tem uma proteína que protege o seu DNA. Ela teria potencial para ser uma fonte de novos genes e de mecanismos de proteção.
Eles desenvolveram em laboratório células humanas que produziram a mesma proteína e descobriram que ela também protegia as células, especialmente contra a radiação. Mas as do tardígrados se mostraram muito mais resistentes a raios-X do que as células humanas. Ou seja, a criatura tem outras cartas na manga, que mereceriam ser mais bem investigadas.
E como terminou a história da ave skua e seu ninho? Teimosa, ela não desistiu. Voltou a fazer o ninho muito perto do heliponto, em outra área de musgo
A reportagem da Folha de S.Paulo visitou nesta segunda (13) a região, a poucos metros da base e precisou desviar a rota porque a ave investia contra quem se aproximasse do local, caminho de Punta Plaza, a região norte da península Keller.
“Ela faz o ninho no musgo porque é fofo, quentinho, funciona como isolante térmico”, diz Luiz Ernesto Trein, analista ambiental e fiscal da obra na base.
Conhecida como mandrião do sul, seu nome científico é Stercoparius, que significa “de esterco”. Trata-se de uma referência à forma como a ave busca o alimento, atacando outras aves até elas regurgitarem.
Também se alimenta de filhotes de outros pássaros, como gaivotas e andorinhas, além de ovos de pinguim.
“Ela tem uma alimentação muito variável como toda ave de rapina. Come de tudo, ataca filhotes de outros bichos, come até cadáveres de pinguins.

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