CARLOS PETROCILO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, 33, teve uma manhã de segunda-feira (21) agitada, atropelada pelos cuidados com os dois filhos e a repercussão do seu protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no domingo (20).

Em entrevista ao SporTV após a etapa da modalidade em Saquarema (RJ), ela disse: “só para não esquecer: fora, Bolsonaro!”.

O ato gerou uma nota de repúdio da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). A entidade afirmou que tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte, não voltem mais a ser praticados”.

“Aproveitamos ainda para demonstrar toda nossa tristeza e insatisfação, tendo em vista que essa primeira etapa do CBVP Open 2020/2021, considerada um marco no retorno das competições dos esportes olímpicos, por tamanha importância, não poderia ser manchada por um ato totalmente impensado praticado pela referida atleta”, completa a confederação.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Carol diz que é lamentável sofrer com qualquer ameaça de punição em consequência da sua liberdade de expressão.

“Não sou ativista, mas me sinto na obrigação de me posicionar e é lamentável e curioso que eu possa ser punida por exercer a minha liberdade de expressão contra este desgoverno”, afirmou Carol. “Não tenho a menor ideia do que vai acontecer, mas a reação da CBV no meu caso foi bem diferente do ocorrido com o Wallace. Isso mostra alguma coisa.”

Em meio à eleição presidencial, em 2018, Wallace e Maurício Souza fizeram o número 17 com os dedos numa foto durante disputa do Campeonato Mundial, em alusão ao número do então candidato Bolsonaro à presidência da República.

O registro com o ato da dupla chegou a ser publicado pela CBV em sua conta no Instagram. A entidade, porém, removeu a publicação e publicou a seguinte nota:

“A CBV repudia qualquer tipo de manifestação discriminatória, seja em qualquer esfera, e também não compactua com manifestação política. Porém, a entidade acredita na liberdade de expressão e, por isso, não se permite controlar as redes sociais pessoais dos atletas, componentes das comissões técnicas e funcionários da casa. Neste momento, a gestão da seleção irá tomar providências para não permitir que aconteçam manifestações coletivas”.

A reação da entidade ao protesto da atleta, cuja maior patrocinadora é o Banco do Brasil (desde 1991), passou a ser questionada nas redes desde a tarde de domingo. Fãs do vôlei e apoiadores de Carol a compararam com o tratamento da entidade diante do ato dos jogadores em 2018.

Houve também pedidos para que o banco deixasse de patrocinar a jogadora, mas ela não conta com patrocínio do Banco do Brasil. No Circuito Brasileiro, em Saquarema, usava um top com a logomarca da estatal por causa do patrocínio à CBV.

Apesar das manifestações contrárias, a jogadora diz que está aliviada com o seu gesto.

“Esse grito não foi premeditado, estava no estômago, preso na boca. Recebi, sim, ataques, e mensagens de apoio de amigos, familiares. Muitos estão preocupados comigo, desde minha integridade física à minha carreira, o que mostra como este governo promove o ódio entre as pessoas”, afirmou.

Carol Solberg é filha da ex-jogadora de vôlei Isabel Salgado, que é uma das lideranças do movimento Esporte pela Democracia, criado neste ano. Em entrevista à Folha em junho, Isabel contestou a ideia de atletas não devem se manifestar politicamente.

“O meu gesto é pequeno, mas por eu ser atleta considero importante soltar a nossa voz. Como calar-se diante de um governo que está queimando o Pantanal, são 140 mil mortos em decorrência do coronavírus, é um desprezo pela cultura”, diz Carol.

“Minha mãe, claramente, tem influência, mas nem falei com ela antes do meu posicionamento e não seria diferente mesmo que ela não fosse tão envolvida em prol da democracia.”

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