LUCAS BOMBANA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a nova alta da taxa Selic promovida nesta quarta-feira (15) pelo BC (Banco Central), para 13,25% ao ano, analistas de investimento são unânimes em apontar que a classe da renda fixa se torna -ainda mais- atraente para os investidores em busca de rendimentos acima dos dois dígitos durante o segundo semestre.

Com a inflação ainda em níveis elevados, mesmo com o esforço da autoridade monetária, títulos públicos e privados indexados ao IPCA, que oferecem uma taxa de juros real, ou seja, acima da inflação, hoje na casa dos 5% até 7% ao ano, estão entre as principais recomendações dos especialistas.

Títulos prefixados com taxas nominais de retorno entre 13% e 15% ao ano também são apontados como boas opções para serem carregados até o vencimento, frente à expectativa de que a taxa Selic não irá permanecer no elevado patamar atual em que se encontra e passe por algum ajuste para baixo um pouco mais à frente.

No entanto, embora a renda fixa seja, de longe, a maior preferência dos profissionais de mercado neste momento, eles ressaltam também a importância de o investidor manter algum nível de diversificação na carteira.

Ações, fundos imobiliários e investimentos no exterior, ainda que com uma dose maior de cautela, não devem ser rifados dos portfólios, embora necessitem de paciência e visão de longo prazo para entregarem retornos positivos aos investidores.

Segundo Josias de Matos, estrategista da plataforma Toro Investimentos, títulos públicos e bancários prefixados com taxas de retorno entre 13% e 15% ao ano tem chamado bastante a atenção, oferecendo aos investidores um nível de retorno que há muito tempo não se via no mercado. “São oportunidades que valem muito a pena serem capturadas pelo investidor”, afirma o especialista.

Na plataforma Tesouro Direto, papéis prefixados com vencimento em 2033 ofereciam uma taxa de retorno nominal em torno de 12,9% na sexta-feira (15). Já dados da plataforma Yubb indicam que CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) prefixados de instituições de médio porte como BMG e C6 Bank oferecem ao investidor taxas próximas de 15% ao ano, com prazo de um a dois anos.

Matos acrescenta que, no caso dos títulos indexados à inflação, hoje é possível encontrar na plataforma Tesouro Direto papéis emitidos pelo governo com taxas de juros reais em torno de 5,5% ao ano. Entre os títulos privados com indexação ao IPCA, as taxas são ainda maiores, podendo chegar em alguns casos a até 7%, assinala o estrategista da Toro.

O especialista lembra ainda que, caso o investidor opte pelos papéis de renda fixa emitidos por instituições financeiras, ele também conta com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) até o limite de R$ 250 mil por CPF, pelo conjunto de investimentos em cada instituição ou conglomerado financeiro.

Levantamento da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças) indica que os CDBs de bancos de médio representam a opção mais vantajosa dentre as principais alternativas hoje na renda fixa, devolvendo ao investidor que aplicar R$ 1.000,00 no prazo de um ano o valor de R$ 120,24, descontado o IR na fonte. Nesse caso, os juros considerados são de 14,58% ao ano.

RENDA FIXA ISENTA DE IR SE DESTACA

Economista e especialista em renda fixa do escritório de assessores de investimento Blue3, Bruna Centeno diz ainda que, dentro da categoria de crédito privado, os investimentos isentos de IR (Imposto de Renda) também são uma boa opção para as carteiras dos investidores.

É o caso dos CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), bem como as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio) e as LIGs (Letras Imobiliárias Garantidas). As debêntures incentivadas de infraestrutura também contam com a isenção fiscal.

Levantamento da plataforma Yubb mostra que, com a nova alta da Selic, as debêntures incentivadas oferecem o melhor rendimento real estimado, seguidas pelas LCIs e LCAs.

Dados do ministério da Economia mostram que as emissões de debêntures incentivadas alcançaram a cifra de R$ 6,3 bilhões no primeiro trimestre do ano, com destaque para os setores de energia e transportes. O prazo médio das operações ficou em torno de 11,6 anos, com uma remuneração ao redor de IPCA mais 7% ao ano.

ALOCAÇÃO EM BOLSA DEVE SER PENSADA PARA HORIZONTE DE LONGO PRAZO

Já para aquele investidor que tem condições financeiras para manter o dinheiro aplicado por um longo período, e estômago para aguentar os solavancos característicos do mercado de ações, o estrategista da Toro diz que agora pode ser um bom momento de se fazer alguma alocação em ativos de maior risco, como na Bolsa de Valores. Frente à volatilidade recente nos mercados doméstico e internacional, o índice Ibovespa acumula queda de aproximadamente 21% no intervalo de 12 meses, até 15 de junho.

Matos cita frase atribuída ao banqueiro inglês Nathan Rothschild, que viveu no século 19, segundo a qual o investidor deveria “comprar ao som dos canhões e vender ao som de trombetas”.

Ou seja, em momentos de forte volatilidade e incerteza, quando a maior parte dos investidores está apreensiva e se desfazendo das ações de maneira indiscriminada, é quando costumam aparecer oportunidades para montar posições com um horizonte de longo prazo, diz o especialista.

O estrategista da Toro diz ainda que setores na Bolsa que apanharam ao longo dos últimos meses em um ambiente de economia fraca, inflação alta e juros subindo, como o varejo e a construção civil, devem entregar retornos bastante atraentes para o investidor que tiver paciência para manter os papéis em carteira por um horizonte de cinco a dez anos.

Já para aqueles que têm um perfil financeiro menos arrojado e preferem um retorno mais comedido, mas também um pouco menos volátil, Matos aponta os grandes bancos e as exportadoras de commodities como setores que tendem a navegar melhor pelo cenário repleto de incerteza nos próximos meses.

FUNDOS AGRÍCOLAS E ALOCAÇÃO GLOBAL NO RADAR

Cofundador do escritório de assessores de investimento InvestSmart, Bruno Hora diz que, nas conversas que têm mantido com os clientes, naturalmente o investimento em renda fixa se sobressai.

Em especial, no caso dos prefixados e dos indexados à inflação, que, em ambos os casos, oferecem taxas de retorno consideradas bastante atraentes, e que ainda podem ter um benefício adicional em um cenário de queda dos juros um pouco mais à frente. Isso porque, ao contratar determinada taxa de retorno ao investir em um título de renda fixa, e, após a aquisição, os juros praticados no mercado recuarem, automaticamente o valor do papel aumenta, efeito conhecido no jargão como marcação a mercado. No boletim Focus, os economistas projetam uma taxa Selic de 9,25% no final de 2023.

Hora afirma também que, entre aqueles investidores com um perfil de risco mais arrojado, além das ações, os fundos imobiliários têm sido um tema cada vez mais recorrente nas conversas. “Conforme o ciclo de alta da taxa Selic chegue ao fim, pode abrir espaço para um desempenho mais positivo dos fundos imobiliários, que estão com preços atraentes.”

Nesse caso, o cofundador do escritório diz que os fundos ainda relativamente recentes que se dedicam a explorar dívidas no mercado agrícola, os Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais), tem despertado um interesse cada vez maior por parte dos investidores.

A alta da taxa básica de juros também favorece o interesse pelos fundos agrícolas, tendo em vista que um dos principais alvos no radar dos gestores são os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). Esses ativos costumam ter como indexador o CDI. Por isso, conforme a Selic sobe, o rendimento oferecido pelos certificados também aumenta.

Ainda de acordo com o especialista da InvestSmart, mesmo frente ao cenário internacional turbulento, com inflação pressionada nos Estados Unidos e altas de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), ter uma parte da carteira exposta ao dólar e aos investimentos no exterior é importante para que o investidor tenha algum nível de diversificação geográfica, de modo a não ficar 100% concentrado no risco Brasil. “Independentemente do momento, não existe um portfólio de investimentos saudável se ele não tiver uma parte da alocação em dólar”, diz Hora.

Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil
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