As poucas chuvas dos meses de junho e julho, acompanhadas de uma queda brusca de temperatura, já impactam a agricultura e pecuária no norte do Espírito Santo. É o que apontam agricultores e pecuaristas ouvidos pela Rede TC de Comunicações.

O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural detalha que houve um agravamento da situação nesses dois meses na região, passando de seca fraca para seca moderada. O Incaper explica que esse agravamento é em razão da persistência de anomalias negativas de precipitação, ou seja, poucas chuvas.

Presidente do Sindicato Rural de Jaguaré, Jarbas Alexandre Nicoli Filho relata que a última chuva significativa registrada no Município foi em março, de aproximadamente 50mm. Depois disso, apenas chuvas de pouco volume. “Está preocupante, comprometendo a produção do ano que vem”, frisa. Ele sustenta que o problema afeta todas as culturas e o frio faz com que o clima fique ainda mais seco.

Diante do cenário da seca, Giordano estima queda de 50% na produção de café em 2022. (Foto de divulgação)
Jarbas Filho relata que a última chuva significativa em Jaguaré registrada foi em março. (Foto de divulgação)

Jarbas Filho explica que o solo está muito seco e a planta não consegue a hidratação necessária, levando “a aspecto visual não legal, não conseguindo metabolizar os defensivos e os nutrientes que são jogados, dando impressão que não está absorvendo”. O produtor exemplifica que na produção do café conilon, carro-chefe da agricultura local, o desafio é levar os ramos que florarem a vingar os frutos.

“A gente está tentando colocar mais água para amenizar esse problema”, salienta. Jarbas Filho ressalta que a perspectiva é de mais chuvas para que as represas mantenham um volume que garanta a irrigação. Mesmo se chover, o produtor já estima uma quebra na produção de 20% na colheita de 2022 em relação a deste ano. Caso a seca permaneça por mais semanas, Jarbas Filho acredita que essa redução pode ficar acima dos 50%.

O desenvolvimento das lavouras de café já estava impactado pela seca no norte do Espírito Santo.

Expectativa é de chuva no
período de florada do cafezal

Vice-presidente do Sindicato Rural de São Mateus, Giordano Bruno Martin reforça que já são quatro meses sem chuva significativa, fazendo com que as folhas e ramos de café não se desenvolvam. Ele explica que os meses de agosto e setembro são de floração do café, para posteriormente vingarem os frutos e seja feita a colheita em maio e junho.

“Não desenvolveu o ramo, não desenvolveram as flores, não está saindo. Por causa da seca e do frio prolongado, diminuiu o crescimento da planta” – ressalta. Giordano acrescenta que a baixa temperatura pode gerar ainda outro problema: a proliferação da ferrugem no cafeeiro. “Se deixar, ela toma conta da lavoura toda”, sustenta.

Ele acrescenta que os adubos também ficaram mais caros e alguns produtores podem não ter condições de comprar. Diante desse cenário, Giordano estima que a produção de café em São Mateus em 2022 pode ter uma queda de 50% em relação à colheita deste ano.

Pecuarista vê queda de 30% a 40%
na produtividade de leite e de corte

O pecuarista de Montanha, Antônio Carlos do Nascimento, o Carlinhos, avalia que os pastos já foram afetados pela seca. Ele frisa que o capim está muito seco, o que resulta na falta de proteínas para o gado. “Tem que repor com ração para o gado não perder peso”, detalha.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na época da chuva, o pasto nativo oferece de 6% a 8% de proteína para o gado, enquanto na época seca cai para menos de 6%.

Além do clima seco, Carlinhos aponta que o frio também faz com que os animais percam peso, necessitando que os produtores deem suporte de ração, uma alimentação especial, gerando ainda mais custos.

Mesmo com a suplementação na alimentação, Carlinhos avalia que já há um impacto de 30% a 40% na produtividade, tanto na pecuária leiteira quanto na de corte.

O pecuarista de Montanha Antônio Carlos do Nascimento avalia que a seca já reflete numa redução de 30% a 40% na produtividade da pecuária, tanto de leite quanto de corte. ( Foto de divulgação)

Veneza aponta
queda na captação de leite na região

Com os pastos afetados pela seca, toda a cadeia produtiva acaba sendo impactada. Diretor de Assuntos Lácteos da Veneza, Erik Pagung percebe que o volume de captação de leite tem reduzido.

O diretor salienta que, neste período de entressafra, é normal uma queda de 30% na captação de leite em relação “ao período das águas”. Mas, neste ano, detecta que houve uma redução de 50%.
Erik explica que a redução na captação de leite na região não impacta a produção da Veneza porque ela é suprida nas necessidades da indústria com produto de fora da região. “Mas o leite do nosso produtor reduziu uns 20% em relação aos períodos de entressafra dos últimos anos”, ressalta.

O capim seco faz com que o gado perca peso.(Foto de divulgação)

CHUVAS EM AGOSTO
Ainda de forma tímida, o mês de agosto apresenta um aumento no volume de chuva na região, conforme registra o Instituto Nacional de Meteorologia. Depois dos acumulados de 18,8mm de chuva em junho e de 8,8mm em julho, até as 14h desta sexta-feira (27), em São Mateus, o Inmet registrava 26mm de chuva no mês de agosto, já equiparando com a soma do acumulado dos dois meses anteriores.

COMPARATIVO ANUAL DA SEVERIDADE DA SECA NO ESPÍRITO SANTO

 

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