FELIPE BÄCHTOLD
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A maioria da população reprova a iniciativa do governo Jair Bolsonaro de negociar cargos e verbas com congressistas, de acordo com pesquisa Datafolha.

A maior parte dos entrevistados também entende que o presidente não está cumprindo a promessa da campanha eleitoral de não oferecer vagas no governo e a liberação de recursos para obter apoio no Congresso.

O Datafolha ouviu 2.069 pessoas na segunda (25) e na terça-feira (26) em todo o país.

Disseram que o presidente age mal ao negociar cargos e verbas 67% dos entrevistados, ante 20% que entendem que ele age bem.

A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Por causa da pandemia do novo coronavírus, as entrevistas foram feitas por telefone, método que exige questionários rápidos, sem a utilização de estímulos visuais.

Nas últimas semanas, o presidente, que se elegeu pelo PSL e está sem partido desde o ano passado, promoveu uma aproximação com legendas do chamado centrão para ampliar seu apoio no Congresso.

Partidos como PP, PL e Republicanos estão gerenciando a distribuição de cargos da administração federal para atrair siglas menores à base governista no Congresso.

Houve nomeações para cargos como a direção do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e para a superintendência de trens urbanos do Recife, por exemplo, de indicados do Avante e do PSC, respectivamente.

Na pesquisa, 64% disseram que o presidente não está cumprindo o que prometeu na eleição de 2018 sobre a relação com o Legislativo. Acham que ele está cumprindo a promessa 29%, e 8% não souberam responder.

Nas duas perguntas sobre o assunto, a reprovação ao comportamento do presidente tende a ser maior entre jovens de 16 a 24 anos e entrevistados com ensino superior.

Entre aqueles que dizem ter votado em Bolsonaro no 2º turno em 2018, as taxas se invertem, e 49% consideram que o presidente está cumprindo a promessa, ante 42% que veem descumprimento do anunciado na época.

Na disputa eleitoral, o atual presidente costumava falar em acabar com o que chama de “velha política”, moldada no toma lá dá cá.

O “toma lá” são os vários cargos de segundo e terceiro escalão da máquina federal, postos cobiçados por caciques partidários para manter seu grau de influência em Brasília e nos estados.

O “dá cá” é uma base de apoio mínima no Congresso para, mais do que aprovar projetos de seu interesse, evitar a abertura de um possível processo de impeachment.

Para afastar Bolsonaro da cadeira presidencial, são necessários ao menos 342 dos 513 deputados, além de um clima propício à destituição –economia em frangalhos e tensão nas ruas, por exemplo.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já recebeu dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro, mas não decidiu ainda se dá seguimento à tramitação dessas solicitações.

Líderes de partidos do centrão afirmam que Bolsonaro enquadrou ministros que resistiam em ceder cargos de suas pastas ao grupo, deixando claro que quem se opuser pode ser demitido.

Ao se lançar candidato em 2018, o atual presidente tinha o apoio só do nanico PRTB, sigla de seu vice, Hamilton Mourão.

Após a vitória, o eleito decidiu deixar de lado na montagem de seu primeiro escalão a divisão partidária de apoio, como era o padrão entre seus antecessores, e escolheu nomes que não tinham sido indicados pelos partidos, além de vários militares sem atuação política.

À época, a medida era vista como uma quebra na era do “presidencialismo de coalizão”, modelo no qual o eleito negocia com partidos o apoio parlamentar oferecendo nomeações em ministérios.

Com o passar do tempo, Bolsonaro foi enfrentando dificuldades na sua relação com o Congresso, em que pese a aprovação da reforma da Previdência, em 2019.

Em abril deste ano, por exemplo, o Senado deixou caducar uma medida provisória que tratava de uma das bandeiras do ministro da Economia, Paulo Guedes, a criação do emprego Verde e Amarelo, com regras mais flexíveis.

A pesquisa mais recente do Datafolha também mostrou um crescimento da rejeição ao presidente na esteira da crise do coronavírus.

O índice de entrevistados que disseram que ele faz um governo ruim ou péssimo passou de 38% no fim de abril para 43% nesta semana. A taxa de ótimo ou bom se manteve estável, em 33%.

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